a A Câmara de Santa Comba Dão ainda não decidiu se vai criar um museu, ou se dará outro nome ao projecto, esse confirmado e reiterado, de expor o espólio de Salazar.Ao PÚBLICO, o presidente da autarquia, João Lourenço, não escondeu, porém, a intenção de, se a decisão for criar um museu, pedir a integração na rede oficial. Mas, realçou, "nesta primeira fase", está mais preocupado em concluir o projecto, para o voltar a apresentar à ministra da Cultura.
Segundo explicou ao PÚBLICO Manuel Oleiro, director do Instituto Português de Museus, os núcleos museológicos podem ser criados sem pedido formal à tutela. A própria ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, já o tinha dito, à Lusa: "Esse museu, se for um museu, será de iniciativa da Câmara de Santa Comba Dão e o ministério não tem que dar qualquer aval a esse projecto."
Certo é que, sem adesão à rede oficial, o projecto fica excluído do apoio técnico e financeiro que ela presta. João Lourenço sabe disso, mas sublinha que há outras formas de tornar o projecto "rentável", nomeadamente através de "parcerias público-privadas". "Ainda há muita coisa para amadurecer", disse, admitindo que a palavra "museu" venha a sair do nome do projecto, até porque "não há nenhum museu rentável". O objectivo, referiu, é que o espaço tenha uma vertente informativa, mas também lúdica - o que levou, aliás, a ministra da Cultura a concluir, na sequência da audiência com Lourenço, que "se trata de um projecto embrionário, ao ponto de nem sequer estar definido se se tratará de um museu ou de um parque temático".
"Temos consciência que é um projecto sensível. Não queremos que confundam isto com uma homenagem ou um branqueamento", vincou Lourenço, realçando que a autarquia tudo fará para que o concurso para a execução da obra seja lançado "até final do ano". Embora isso possa não acontecer, dado que as negociações com um dos herdeiros de Salazar têm tido avanços e recuos, referiu, não excluindo que, se as negociações não chegarem a bom porto, a câmara poderá declarar a utilidade pública da casa onde Salazar viveu e que hoje se encontra em ruínas.
Salazar foi também o tema da intervenção de ontem, na Assembleia da República, do deputado Fernando Rosas (BE), que acusou a RTP de, através do concurso Os Grandes Portugueses, fazer uma "rasteira apologia do salazarismo". O BE vai, por isso, pedir esclarecimentos por escrito à estação pública. Em Março, o PCP enviou uma carta à RTP, com o mesmo objectivo.