Um balneário com 3 mil anos

Foi reconstruída no Museu de Arqueologia uma estrutura
com Pedra Formosa, que se pensa que era usada para rituais
de passagem e purificação. Fotos de Enric Vives-Rubio

Quem quiser saber como era por dentro um balneário castrejo do primeiro milénio antes de Cristo terá de ter alguma agilidade. O truque é pôr a mão numa ranhura na pedra sobre a pequena porta, outra na ranhura do lado de dentro e esgueirar-se para o interior com a elegância que conseguir. Era assim que faziam os frequentadores destes balneários - os nossos antepassados -, há três mil anos. Existem por todo o Norte de Portugal, Galiza e Astúrias vestígios destes locais, e um deles, de Vila Nova de Famalicão, foi agora reconstruído no Museu de Arqueologia, em Lisboa, usando os materiais e técnicas do primeiro milénio a. C. "É uma proposta de reconstituição. Não é uma certeza", afirma o arqueólogo e comissário da exposição, Armando Coelho da Silva, explicando que o objectivo é precisamente provocar o debate sobre para que serviam estes balneários, quem os usava e em que ocasiões. O professor, que escavou a primeira estrutura deste tipo nos anos 70, diz que nessa altura o seu objectivo era apenas "provar que não se tratava de fornos crematórios, mas sim monumentos para banhos de vapor e água fria". Com o tempo, as teses foram evoluindo. E se há quem considere que os balneários eram usados sobretudo pelos guerreiros, numa lógica ligada ao mundo celta, Armando Coelho acha que o seu significado vai muito para além desse. "Estão ligados aos rituais de passagem e de purificação, feitos sob os auspícios de uma divindade indígena, Nabia, deusa-mãe, da fertilidade, saúde e abundância". É esse, explica, o significado dos símbolos na Pedra Formosa, a parte central da estrutura, por baixo da qual é necessário passar para aceder do átrio à zona da sauna, junto da qual está a fornalha. A reconstrução dentro dos Jerónimos foi um desafio, conta o director do museu, Luís Raposo. Foram necessárias 200 toneladas de granito (só a Pedra Formosa pesa cinco toneladas), vários camiões TIR e a ajuda de artesãos pedreiros e carpinteiros de Famalicão para construir algo tão difícil como, por exemplo, a falsa cúpula da fornalha ou a sala da sauna, sem cimento, só com a força das pedras umas contra as outras.Alexandra Prado Coelho

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