Portugal e Roménia juntos como nunca

Uma das grandes ofensivas do novo Instituto Cultural Romeno em Lisboa será na área editorial

a De que falamos quando falamos da Roménia? Não se pode afirmar que este país latino, recém-chegado à família de Estados-membros da União Europeia (UE), a 1 de Janeiro deste ano, seja um perfeito desconhecido para os portugueses. Mas não anda muito longe disso. A este desconhecimento não é alheio o regime opressivo que isolou o país ao longo de várias décadas. Falar na Roménia é também lembrar o líder comunista Nicolae Ceaucescu, que, de 1965 a 1989, quando foi fuzilado juntamente com a sua mulher, impôs uma ditadura atroz que obrigou muitos romenos a procurarem o exílio. Menos de duas décadas após a instauração da democracia, a Roménia está ainda a despertar para o resto da Europa. A divulgação além-fronteiras da cultura romena, porém, anda em passo acelerado, com a promoção de acções de intercâmbio cultural sobretudo na Europa.
Para os portugueses, aquele país do Leste europeu não é uma folha em branco. Há nomes, com o de Ionesco e de Brancusi (ver texto em baixo), que contrariam o alegado desconhecimento da cultura romena.
Em 2005, a Fundação Gulbenkian organizou uma exposição dedicada à arte contemporânea romena, titulada Paradoxos: Incorporar a Cidade, que reunia obras de Ion Grigorescu, Iosif Kiraly, Calin Dan, Mircea Cantor, do colectivo subREAL e de Dan Perjovschi.
Apesar das tímidas aproximações, há ainda muito por fazer na disseminação da cultura dos "latinos do Oriente", como lhes chamou Mircea Eliade. Em Portugal, esse trabalho será feito pelo Instituto Cultural Romeno (ICR), que hoje abre em Lisboa, com a inauguração de duas exposições, de Daniela Anghel e de Ioana Zinelli, e um concerto de fado-jazz, às 19h30.
O ICR, presidido por Virgil Mihaiu, ocupa três pisos do edifício do Instituto Franco-Português e vai albergar uma biblioteca e um espaço multifuncional, que acolherá exposições, colóquios e projecção de filmes. Nas mesmas instalações, o ICR pretende, a médio prazo, iniciar um curso de romeno para portugueses e estrangeiros e ainda um curso de língua portuguesa para os romenos que vivem cá.
O Instituto Cultural Romeno de Bucareste, a casa-mãe, começou por abrir filiais em Paris, Nova Iorque e Roma. Mas atendendo aos resultados do trabalho nestas cidades, a cultura passou a ser encarada como "uma excelente embaixadora da Roménia", disse a vice-directora do ICR, Ana Milu-Vaidesegan.
Em 2004 o ICR de Bucareste, presidido por Horia-Roman Patapievici, filósofo e escritor, planeou abrir mais dez núcleos em outras tantas capitais. Lisboa figurava já nessa lista, mas somente no ano passado o Ministério dos Negócios Estrangeiros português autorizou a abertura do ICR em Lisboa. "O instituto pretende organizar eventos que atraiam um amplo leque de pessoas que desejem enriquecer os seus conhecimentos sobre a cultura romena", explicou Patapievici. Por isso, está prevista a organização de eventos culturais e científicos, "precisamente para diversificar a oferta". "Pretende-se ainda reforçar a colaboração com instituições culturais e universidades com o intuito de realizar parcerias através das quais a cultura romena se torne uma presença constante e activa."
Os responsáveis pelo ICR têm já uma programação definida para este ano. Um dos pontos altos do cartaz é uma mostra de cinema romeno contemporâneo que chegará às salas de três cidades - Lisboa, Porto e Coimbra - entre 23 de Maio e 9 de Junho. A iniciativa, que privilegiará jovens cineastas, engloba a projecção de curtas e longas metragens e ainda documentários.
Diálogo com editoras
Mas uma das "grandes ofensivas" do ICR acontecerá na área editorial, com a intensificação do diálogo com editoras portuguesas interessadas em traduzir autores romenos. Tal como acontece nos outros institutos, também o de Lisboa irá atribuir bolsas para tradutores romenos que residam em Portugal.
Já com o apoio do ICR, a editora Cavalo de Ferro publicou em 2005 o livro de contos Projectos de Passado, de Ana Blandiana. Recentemente, colaborou também com a editora Guerra e Paz, nomeadamente na recomendação de tradutores para versão portuguesa do livro Porque Gostamos de Mulheres, de Mircea Cartarescu. Esta editora está ainda interessada em publicar o diário que Mircea Eliade escreveu durante os seus anos de adido cultural em Lisboa (1941-1944)
Ionesco e Eliade são, porventura, os autores romenos mais conhecidos em Portugal. Mas uma busca na Biblioteca Nacional leva-nos a dois livros de um dos poetas maiores das letras romenas, Lucian Blaga (1895-1961): A Milagrosa Semente (edição bilingue) e Nas Cortes da Saudade: Antologia Poética, traduzidos por Micaela Ghitescu e editados pela Minerva. Segundo Anca Milu-Vaidesegan, também a ASA está interessada em publicar a ficção do escritor Norman Manea (1936), cujo livro de memórias, The Return of the Hooligan, tem sido um sucesso.

Instituto Cultural Romeno

Inauguração às 19h30Rua António Cândido, 18 (entrada também pela Av. Luís Bívar, 91)
Tel.: 213968812

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