Disney apresenta a sua primeira princesa afro-americana num filme de animação
The Frog Princess passa-se em Nova Orleães e tem como protagonista Maddy, do bairro francês local. A primeira princesa negra irá juntar-se a Jasmine, do Médio Oriente, a Pocahontas, a nativa índia, e Mulan, da China, na galeria das princesas "etnicamente diversas" da Disney
a Sete décadas depois da Branca de Neve, a Disney anunciou que o seu próximo filme de animação tem como heroína uma princesa afro-americana. A ideia será tanto dar uma ideia de politicamente correcto como de aumentar os lucros da venda de merchandising da marca Princesas Disney.The Frog Princess é o nome do filme, que deverá sair em 2009, e que tem como protagonista Maddy, uma menina do bairro francês de Nova Orleães. A importância da nova personagem no universo Disney irá muito para além do filme - a princesa Maddy entrará no universo de artigos da marca, como DVD, livros, mobílias, lancheiras, cadernos e outra parafernália mais ou menos útil para crianças, e aparecerá ainda nos parques temáticos Disney. A marca de brinquedos Princesas Disney, com brinquedos destinados a meninas entre os três e oito anos, gerou lucros de cerca de três mil milhões de dólares desde que foi criada, em 1999, e é a que mais cresce na divisão de produtos da Disney, salvando-a aliás das quebras anuais de 30 por cento que vinha a registar. Um artigo do final do ano passado na revista do New York Times referia-se mesmo a uma verdadeira mania das princesas nos EUA e na transformação das Princesas Disney na marca hegemónica de brinquedos para meninas.
A estreia da Disney nas personagens não caucasianas deu-se em 1992, com a princesa Jasmine, vinda do Médio Oriente, no filme Aladino, de 1992. Mas só em 1995 saiu Pocahontas, com a heroína índia do século XVII e ainda mais tarde, em 1998, a chinesa Mulan. Passarão quase dez anos para, em 2009, Maddy, a princesa negra, aparecer nas salas de cinema. As outras princesas são as personagens principais dos filmes Cinderela, Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, A Bela e o Monstro e A Pequena Sereia. Já havia, entretanto, até uma petição on-line pedindo à Disney que fizesse uma princesa negra.
Estes esforços da Disney estão, no entanto, muito atrás de outros fabricantes de brinquedos da América: a Mattel, por exemplo, fez uma Barbie afro-americana, assim como uma hispânica, logo em 1980 - embora esta fosse a Barbie tradicional apenas com diferença na cor da pele e no tipo de cabelo. Criticada por isso, a empresa apressou-se a fazer versões com características físicas diferenciadas entre as Barbies branca, negra e hispânica.
Para apoiar Nova Orleães
Nem todas as Princesas Disney são realmente princesas nos filmes - apesar de a maior parte começar, por nascimento, com o título, ou acabar por o obter no fim do filme, ao casar com o príncipe. Mas Pocahontas e Mulan são princesas sem realmente o ser - o conceito alarga-se e acaba por na verdade não ser mais do que uma marca, nota o New York Times.
No entanto, a mania das princesas é vista por alguns académicos como a resposta a um mundo perigoso pós-11 de Setembro. "Historicamente, a adoração das princesas aparece em períodos de incerteza e de grandes mudanças sociais", afirmou Miriam Fornam-Brunell no artigo da revista do Times, dando como exemplo a Grande Depressão dos anos 1930.
A Disney fez a apresentação do novo filme em Nova Orleães, onde decorrerá a acção e The Frog Princess. O chefe executivo da Disney, Robert Iger, afirmou que a empresa queria mostrar o seu apoio à cidade, que há 18 meses sofreu inundações na sequência do furacão Katrina, escolhendo-a para o seu encontro anual, onde foi apresentado o filme.
Para além da novidade da princesa negra, a Disney voltará à animação desenhada à mão a duas dimensões para este filme, deixando de lado a tecnologia e os computadores.
História e detalhes do filme são ainda um segredo bem guardado. O presidente dos estúdios Disney, Dick Cook, disse apenas: "O cenário do filme ser em Nova Orleães e ter uma princesa forte como personagem principal dão ao filme muita excitação e textura." "Vai ser um clássico Disney, mas como nunca viram", espicaçou o director criativo da Pixar, que agora supervisiona as animações da Disney. Sabe-se ainda que a música está a cargo de Randy Newman, nascido em Nova Orleães, que tinha sido nomeado para um Óscar mais de uma dúzia de vezes até ganhar o primeiro prémio da Academia em 2001 por um tema de Toy Story.
O diversificar étnico das personagens da Disney terá ainda um objectivo para além do lucro: a empresa pretenderá também suavizar algumas acusações feitas a Walt Disney de que seria um anti-semita e simpatizante nazi, segundo a correspondente do diário britânico The Times em Los Angeles.
A história dos esforços multiculturalistas da Disney registou ainda alguns falhanços, como no pioneiro Aladino em que Jasmine dizia, numa das canções, "Venho de um país (...) onde cortam a tua orelha se não gostam da tua cara" - uma letra que acabou por ser alterada após protestos do Comité Árabe-Americano Contra a Discriminação. Também o facto de a nativa Pocahontas ser demasiado parecida com a top model britânica Naomi Campbell foi motivo de críticas nos EUA.
A princesa negra da Disney poderá agora ser inspiradora para as meninas afro-americanas, dizem os mais optimistas, tanto quanto a actriz Hale Berry, a primeira afro-americana a ganhar um Óscar para Melhor Actriz, em 2001, ou a escritora Toni Morrison, a primeira mulher negra a vencer um Prémio Nobel, em 1993.