PCP impõe direcção ao Conselho para a Paz
a O Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) elegeu no dia 3 de Março a sua nova direcção, presidida por Rui Namorado Rosa e eleita em lista única, promovida pelo PCP. O facto de a direcção comunista ter imposto nomes e não aceitar negociar levou a que vários dos antigos dirigentes desta organização não governamental se afastassem da lista, onde estavam incluídos pela direcção do PCP, e nem sequer aceitassem constituir uma segunda lista, para evitar confrontos e guerras internas, assim como para não legitimar os métodos usados pela direcção comunista.Domingos Lopes, que era vice-presidente e funcionava como presidente executivo, não quis entrar em pormenores sobre a decisão de não se recandidatar, mas justificou-a ao PÚBLICO: "Não quis continuar na direcção da CPPC por achar que os objectivos não estavam assegurados. A tradição de unidade da CPPC na sua composição interna e a forma de constituição da lista justificam esta minha posição que, aliás, não é só minha."
Com Domingos Lopes abandonaram a lista feita pelo PCP Ulisses Garrido, dirigente da CGTP, Vítor Garrido, advogado, João Corregedor da Fonseca, ex-deputado pela ID, e Mário Tomé, ex-deputado da UDP.
Contactado pelo PÚBLICO, o novo presidente do CPPC, Rui Namorado Rosa, não quis comentar a essência da polémica que assola o CPPC. Apenas explicou por que não queria comentar o assunto e o facto de o PCP ter imposto uma lista. "Essas questões são estranhas ao CPPC, não tenho nada a comentar. Houve composição de listas, esta foi discutida nos órgãos cessantes, o resultado foi levado à assembleia geral e resultou na nova eleição", declarou Rui Namorado Rosa ao PÚBLICO. E rematou: "Fazer comentários a propósito das razões de uma ou de outra pessoa que foi incluída ou excluída diz respeito à instituição. Não tenho nada a comentar sobre as razões, as opiniões e as atitudes de cada pessoa."
De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, quando o processo eleitoral se iniciou, Domingos Lopes, que era visto dentro da organização como o candidato natural à presidência, foi confrontado, numa reunião - que decorreu na sede nacional do PCP, na Rua Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa - do sector internacional, dirigido por Ângelo Alves, com uma lista definitiva para a direcção da CPPC. Nessa lista, a presidência era entregue a João Namorado Rosa, Domingos Lopes conservava o lugar de primeiro vice, surgiam os nomes de Vítor Silva, Luís Vicente e Dieter Dilinger e Carlos Candal mantinha-se na presidência da assembleia geral. Perante a imposição de uma lista, sem sequer dar espaço a que fosse negociada a sua composição dentro da CPPC com sectores que não alinham pelas orientações oficiais do PCP, os descontentes decidiram cindir.
Esta afigura-se como a segunda eleição em que o PCP altera o seu modo de operar nas organizações sociais. Historicamente, os comunistas portugueses usavam o chamado método "à Dimitrov" de constituírem frentes o mais amplas possível, baseadas no critério do "interesse de classe" e procuravam negociar com outras entidades e independentes listas ditas "unitárias". A adopção de listas próprias foi já patente nas eleições do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, em que o PCP apoiou uma lista próxima da linha oficial da direcção, encabeçada por Mário Nogueira, contra uma outra que acabou por vencer, liderada por António Avelãs, e que juntava vários militantes do PCP que têm discordado da linha ideológica e política seguida pela direcção. São José Almeida
"Não quis continuar na direcção da CPPC por achar que os objectivos não estavam assegurados", diz Domingos Lopes