Torne-se perito

O Sol vai ficar em Estremoz e Plutão em Évora Monte

a O sistema solar vai espraiar-se pela planície alentejana. O Sol, um disco de 3,3 metros de diâmetro, ficará em Estremoz. A 14 quilómetros de distância, Plutão será um berlinde de cinco milímetros no alto do castelo de Évora Monte, com vista desafogada para a paisagem, manchada aqui e ali por oliveiras. O Centro Ciência Viva de Estremoz vai criar um modelo do sistema solar à escala, único na Península Ibérica. Em vez de os planetas e asteróides serem representados ao calhas, tanto os seus tamanhos como as órbitas serão rigorosos e proporcionais à realidade. A ideia é inaugurá-lo a 27 de Maio, data do segundo aniversário do Ciência Viva de Estremoz.
Foi de um acaso que surgiu este projecto. Compraram uma maqueta do sistema solar para o Centro Ciência Viva de Estremoz, com casa no Convento das Maltezas, no centro da cidade. "Olhámos para aquilo e dissemos: "Está tudo fora de escala"". E tivemos a ideia de espalhar os planetas pelo convento", conta-nos o geólogo Rui Dias, director do centro.
Mas um pequeno problema impedia a construção de um sistema solar à escala do convento. "Chegámos à conclusão de que, se tentássemos meter tudo dentro do convento, precisaríamos de um microscópio para ver vários planetas. Nem sequer a cidade de Estremoz chegaria." E se se construísse um modelo à escala do concelho?
Estremoz até fica mais ou menos no centro do concelho, logo seria perfeita para receber o Sol. Escolheram pô-lo à porta do Centro Ciência Viva: como seria uma bola bem maior do que uma pessoa, portanto algo inestética, optaram por representar o Sol só por uma fatia.
Plutão, na ponta do sistema solar, teria de ficar no Castelo de Évora Monte, um dos pontos mais altos da serra de Ossa, a 479 metros de altitude. "A ideia é que as pessoas estejam em Plutão a ver onde está o Sol, porque Estremoz vê-se no horizonte", explica Rui Dias.
Outra preocupação é que a escala escolhida permitisse ver a Lua e todos os planetas, incluindo Plutão, à vista desarmada. Já era o planeta mais pequeno, com 2300 quilómetros de diâmetro, menos do que a "nossa" Lua. No ano passado, ao fim de anos de discussão internacional, Plutão passou aliás a ser considerado um planeta anão.
Vazio entre os planetas
Tendo em conta as distâncias de Estremoz a Évora Monte (14,25 quilómetros) e do Sol a Plutão (5900 milhões de quilómetros), a escala a que será construído o modelo será de 1/414.035.088. Quer dizer que um quilómetro medido no concelho de Estremoz equivale a cerca de 414 milhões de quilómetros no espaço.
Ao fazerem as contas para o modelo, Rui Dias e a geóloga Isabel Machado, coordenadora científica do projecto, aperceberam-se de quão vazio o sistema solar é. "Não tínhamos ideia de que fosse assim", diz Rui Dias. Entre Évora Monte e Estremoz, apenas se perdem pela planície as bolinhas de Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno.
No entanto, os desenhos nos livros dão uma imagem distorcida. "Nunca vimos um sistema solar verdadeiramente à escala. Não é de admirar, porque as suas dimensões são tais que essa representação não caberia em nenhum edifício e, muito menos, em qualquer livro", dizem os geólogos num texto de apresentação do projecto.
"Ficamos sempre limitados a representações em que os planetas estão a uma escala e as suas órbitas a outra escala completamente diferente. Esta situação impede-nos de ter uma ideia do vazio do Universo."
Com o modelo de Estremoz, tornar-se-á evidente como Mercúrio, Vénus, Terra e Marte se concentram no interior do sistema solar. O modelo coloca-os a todos na zona urbana, dentro da cintura de muralhas da cidade. O nosso planeta, que tem 12.700 quilómetros de diâmetro, ficará reduzido a uma bola de três centímetros, no jardim perto do lago do Gadanha.
Todos os planetas exteriores, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno, ficam fora das muralhas, na zona rural. Entre planetas "urbanos" e "rurais", a cintura de asteróides ocupa o parque de feiras de Estremoz. Para ver à escala alguns asteróides, aí sim, só com lupa.
Mecenas, procuram-se
Todos os planetas serão fixos na parte de baixo de torres cilíndricas, de oito metros de altura, pintadas a azul metálico. Haverá painéis explicativos.
Júpiter, o maior planeta do sistema solar, encolherá até ser uma bola de 34 centímetros, que ficará nas vizinhanças do campo de futebol de Estremoz. Os outros planetas distribuem-se por aldeias. Saturno, quase com 29 centímetros, ocupará o recinto do jardim-de-infância de São Lourenço de Mamporcão. Urano mingará para 12,5 centímetros e ficará em Mamporcão. E Neptuno, quase com 12 centímetros, irá para São Bento do Cortiço.
"Tivemos a preocupação de espalhar os planetas pelas aldeias e fomentar o turismo cultural, para que não seja apenas comer as migas aqui do Alentejo", diz Rui Dias.
Em todo o mundo, este sistema solar será dos poucos construídos perfeitamente à escala, sublinham os geólogos. "Será um instrumento pedagógico ímpar, cuja importância ultrapassa em muito o Alentejo."
Gostariam ainda de iluminar as próprias torres com focos potentes. Para esta parte do projecto, procuram mecenas. Querem que os visitantes nocturnos do Castelo de Évora Monte tenham uma surpresa em épocas especiais: entre o negrume da planície e um céu onde sobressaem as estrelas, como não sucede nas cidades, talvez possam identificar onde está cada planeta. Certezas de que verão todos os focos de luz não há, diz Rui Dias. "Mas pensamos que será possível."

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