Manoel de Oliveira no trilho do Cristóvão Colombo português
Cristóvão Colombo - o Enigma é o título do próximo trabalho do realizador, que aos 98 anos continua em acção
a Manoel de Oliveira vai regressar à dimensão mais universalista da História de Portugal, tema que o vem interessando nos últimos anos, nomeadamente em filmes como Non, ou a Vã Glória de Mandar (1990), sobre as derrotas que também fizeram a gesta portuguesa, Palavra e Utopia (2000), dedicado ao Padre António Vieira, e Quinto Império - Ontem como Hoje (2004), em volta da figura de D. Sebastião. Desta vez é a figura de Cristóvão Colombo (1451-1526) e a tão falada hipótese de ele ter nascido em Portugal, na localidade alentejana de Cuba, que mobiliza a atenção do realizador. O pretexto para o seu novo filme, que hoje começa a ser rodado em Lisboa, é o livro Cristóvão Colon [Colombo] Era Português, de Manuel Luciano da Silva e Sílvia Jorge da Silva, um casal de emigrantes portugueses radicado nos Estados Unidos, em Rhode Island, e que durante vários anos investigaram nessas paragens americanas, mas também na Europa, testemunhos da vida e da viagem descobridora de Colombo. No final, os dois investigadores consideraram poder provar a tese da naturalidade portuguesa do navegador, e fixaram-na no livro atrás referido.
Seguindo um expediente narrativo idêntico ao de Um Filme Falado (2003), Oliveira vai seguir, no seu novo filme, Cristóvão Colombo - O Enigma, o percurso biográfico dos dois emigrantes, desde a sua partida para a América - Manuel Luciano em 1946, Sílvia quinze anos depois - até às suas investigações sobre Colombo.
"Não se trata nem de um filme científico, histórico ou patriótico, nem de carácter propriamente biográfico, mas sim de uma ficção de teor romanesco, evocativa da grandiosa gesta dos Descobrimentos Marítimos em si, com a novidade lógica de que, afinal, Cristóvão Colon era português, nascido na vila alentejana de Cuba e, por tal razão, ter dado à maior ilha por ele descoberta no mar das Antilhas o nome da sua terra natal - Cuba". É esta a nota de intenções do filme de Oliveira, em mais uma obra sobre o tema da viagem, e em que o realizador faz mesmo uma associação da Ítaca de Homero com a Lisboa de Camões.
Filmar em Lisboa
A capital portuguesa, de onde Manuel Luciano da Silva emigrou para a América, será também o ponto de partida do filme e da própria rodagem. As primeiras cenas serão hoje filmadas na Rua Augusta, mas ao longo desta semana a equipa de Oliveira registará imagens também noutros locais de Lisboa e no cais do Alfeite, nalguns desses sítios a simular décors do outro lado do Atlântico. Vila Franca de Xira, Porto, Alentejo, Algarve e Madeira (na Casa de Colombo, em Porto Santo) são outros sítios onde será feita a rodagem.
Mas a equipa vai também atravessar o Atlântico e filmar em Nova Iorque, Newport/Rhode Island e Berkeley/Massachusetts. A dupla Ricardo Trepa-Leonor Baldaque, habituais na trupe do realizador, será a protagonista, num elenco que vai contar também com uma "participação especial" de Leonor Silveira. O próprio Oliveira e a mulher, Maria Isabel Carvalhais, terão também pequenos papéis.
A estreia de Cristóvão Colombo - o Enigma está prevista para Julho em Washington.
Manoel de Oliveira não pára. Aos 98 anos, para além de começar a rodar o filme sobre Colombo (na imagem, a capa do livro em que se baseia), o realizador tem o seu nome e a sua obra sempre em cena. No final desta semana vai reencontrar-se em Lisboa com Michel Piccoli, na Cinemateca Portuguesa, onde será feita a antestreia nacional do seu filme anterior, Belle Toujours (2006), que conta com a presença do actor francês numa actualização do personagem que o mesmo interpreta em Belle de Jour (1967), de Luis Buñuel. Depois de ter sido bem acolhido no Festival de Veneza, o filme em que Oliveira homenageia o mestre espanhol vai finalmente sujeitar-se à apreciação do público português a partir de 17 de Maio, data em que chegará ao circuito comercial. No mesmo mês, Oliveira revelará em Cannes a sala de cinema da sua vida, já que foi um dos 35 realizadores de todo o mundo convidados pelo director do festival, Gilles Jacob, a registar esse "segredo" num pequeno filme de três minutos, ao lado de figuras como Michael Cimino, Yousseh Chaine, Roman Polanski ou Zhang Yimou. Oliveira insiste em manter o mistério sobre a sua escolha, lembrando que o próprio director de Cannes, no texto em que apresentou o projecto no jornal Le Monde, se lhe refere escrevendo: quanto a Manoel de Oliveira, "deixo-vos adivinhar o que ele inventou!". "Se ele não quis divulgar, seria uma indelicadeza da minha parte fazê-lo", justifica-se o realizador. O mistério será revelado no dia 20 de Maio, em Cannes e numa emisão do Canal +.