Maryland recupera manuscrito do comandante George Washington
Carta original de demissão do general que seria Presidente, avaliada em 1,5 milhões de dólares, foi comprada pelo estado para evitar um leilão
a À volta do antigo Capitólio da cidade histórica de Annapolis, no estado do Maryland, esperava-se ontem uma multidão tão grande como aquela que, na longínqua noite de 23 de Dezembro de 1783, ali se dirigira para ouvir George Washington, o vitorioso comandante do exército que, ao fim de seis anos de combate, consagrara a independência dos americanos na guerra contra os ingleses.Um comité do novo Congresso Continental reunido em Filadélfia, e liderado por Thomas Jefferson, viajara até Annapolis para assistir ao acto oficial de Washington. Firme, embora emocionado, o comandante-chefe apresentou ao Congresso a sua demissão. Num discurso breve, de 350 palavras, redigidas na frente e verso de uma folha de papel.
Devem ser os civis os responsáveis pelo poder militar, considerava Washington. O seu cargo ficava à disposição dos políticos dos novos Estados Unidos da América. Lido o discurso, o comandante regressou à sua quinta de Mount Vernon, onde voltou a dedicar-se à agricultura. Cinco anos depois, Jefferson e outros chamá-lo-iam para ser o primeiro Presidente.
A tinta acastanhada desmaiou e tornou-se quase bege; o papel também definhou a partir das pontas, mas as palavras de Washington, vigorosamente desenhadas numa caligrafia ornamentada - algumas riscadas, outras acrescentadas - continuam tão poderosas como há 223 anos. E, assim, ontem em Annapolis, de novo se juntou uma multidão para esperar pelo discurso.
O estado do Maryland, que acaba de "resgatar" o manuscrito original do discurso de Washington, escolheu as celebrações que marcam o feriado do Dia dos Presidentes (que coincide com a data do aniversário de Washington) para mostrar ao público o documento, que muitos especialistas consideram uma das peças políticas mais importantes da História da América.
A Biblioteca do Congresso e os Arquivos Nacionais contam com duas outras cópias da resignação de Washington. O rascunho original, avaliado em 1,5 milhões de dólares, permanecia há gerações na posse de uma família do Maryland, com quem o governo estadual acabou por fechar negócio em segredo, evitando que o documento fosse, por exemplo, colocado a leilão. Segundo revelou o Washington Post, as negociações arrastaram-se durante dois anos: o estado acabaria por pagar 600 mil dólares, dois empresários contribuíram com 200 mil dólares cada um e a família (cuja identidade foi mantida anónima) doou os restantes 500 mil dólares.