Portugal tem pavilhão na Bienal de Veneza até 2009
Ângela Ferreira
e Jürgen Bock terão um orçamento de 375 mil euros para a representação nacional deste ano
O Ministério da Cultura alugou um armazém no centro de Veneza para servir de pavilhão nacional para as próximas duas participações na mais conhecida bienal de arte do mundo. O lugar, o crónico problema da presença de Portugal em Veneza, fica resolvido até 2009 com o aluguer por três anos renováveis do Fondaco Marcello, um edifício térreo de 360 metros quadrados na maior via da cidade, o Grande Canal.
São 90 mil euros anuais por um espaço três vezes maior do que aquele conseguido na polémica edição de 2005, quando dois meses antes da abertura da bienal Portugal ainda não tinha contratualizado um espaço de exposição (o mesmo acontecera já em 2003).
"Assegurar o lugar é, de certa maneira, assegurar a [participação na] bienal", disse ontem a subdirectora do Instituto das Artes (IA), Adelaide Ginga Tchen, no fim de uma conferência em que Ângela Ferreira foi oficialmente apresentada como a representante portuguesa na edição deste ano, a inaugurar a 10 de Junho. Escolha de Jürgen Bock, convidado pelo IA para o comissariado, Ângela Ferreira, de 48 anos, sucede a Helena Almeida (2005), Pedro Cabrita Reis (2003), João Penalva (2001), Jorge Molder (1999) e Julião Sarmento (1997).
Para "escapar à fatalidade do óbvio"
Com menor reconhecimento nacional que qualquer destes artistas, a escolha para este ano enquadra-se numa "nova estratégia do IA para a internacionalização", explicou também ontem Jorge Vaz de Carvalho, director do instituto. Trata-se de "escapar à fatalidade do óbvio em favor de nomes que não têm - pelo contrário - menos interesse do que os que já foram apresentados", sublinhou.
Nascida em Maputo (à época, Lourenço Marques), Ângela Ferreira viveu em Moçambique até 1973. Em 1976, e depois de três anos em Portugal após o 25 de Abril de 74, mudou-se para a África do Sul, onde fez a sua formação em artes plásticas. Este seria um factor decisivo para a sua obra, centrada numa reflexão sobre os contextos geopolíticos e tocando mais frequentemente os discursos pós-colonialistas.
É um universo absolutamente ao encontro do tema geral da bienal, ligado à diáspora africana - com o comissário geral de Robert Storr, a bienal tem este ano um Pavilhão Africano especial.
Depois de uma fase inicial em que o seu trabalho teve um carácter assumidamente propagandístico, quer em vídeo, quer em escultura, Ângela Ferreira tem tomado a arquitectura como repositório de noções formais e estéticas ligadas a condições políticas e sociais. Segundo explicou ontem, o seu projecto para Veneza deverá trabalhar tanto a história da cidade - em termos históricos e na sua ligação à bienal - como a arquitectura do próprio espaço expositivo.
Limpo de quaisquer elementos decorativos, o Fondaco Marcello é um open space marcado por duas filas paralelas de colunas - como em obras anteriores, a artista poderá vir a integrar estes elementos numa escultura de grande formato.