Marilyn vista da mezzanine
Jack Nicholson fuma um fósforo no canto da Galeria Serpente. Butch Cassidy e Sundance Kid estão juntos, mas divididos. Björk usa uma máscara, John Lennon usa um camuflado. Ao fundo, Marilyn posa para o fotógrafo Douglas Kirkland.
Por Luís Octávio Costa
O fotógrafo Douglas Kirkland está na Galeria Serpente. De cócoras na alcatifa de Marilyn Monroe, empoleirado na mezzanine da actriz pouco tempo antes de a estrela desaparecer. É essa a sua imagem de marca - o trabalho que resultou no livro An Evening with Marilyn -, foi essa audácia que lhe permitiu fotografar as senhoras (e os senhores) que se seguiram.A Serpente, no número 558 da Rua de Miguel Bombarda, recuperou o fotógrafo canadiano, que, como qualquer comum mortal, tem um antes e um pós-Marilyn. Amante do fotojornalismo, praticante na Look (nos anos vinte) e na Life (na época dourada dos anos 60), Kirkland aceitou a fotografia como obra de arte. Na discussão "não é arte, é arte", optou pela segunda, pela transversalidade, pela deslocação parcial da fotografia. Direcção: showbiz. A galeria portuense recebeu quatro décadas desse seu trabalho (de 1961, mais precisamente de 17 de Novembro, noite da sessão com Marilyn Monroe, a 2001), assimilando alguns dos princípios da própria Serpente, que acarinha o pendor experimentalista das propostas autorais.
Ao fundo, Marilyn Monroe, enrolada nos lençóis, é mais do que um pormenor. É o equilíbrio entre o fósforo no canto da boca de Jack Nicholson e a dinâmica corporal de Dustin Hoffman, entre Cher, a patinadora, e Grace Jones, a contorcionista. Arbitra o duelo entre as curvas de Salma Hayek e o sorriso de Audrey Hepburn, dá vida à máscara dourada de Björk, ao camuflado do pacifista John Lennon, à aliança de Pierce Brosnan. Há uma Angelina Jolie, loira, sensual, manto branco. Mas Marilyn Monroe como a de Douglas Kirkland só há uma.
Fotografia
Douglas kirkland
Porto
Serpente - galeria de arte contemporânea
(Rua de Miguel Bombarda, 558)
Até 24 de Fevereiro
de terça a sábado (das 15h às 19h)