CEM ANOS DA RÁDIO O milagre chegou na noite de Natal
Há cem anos, na noite de Natal, Reginald Fessenden inaugurava uma nova era da comunicação, provando que se conseguia emitir uma mensagem de voz por via herteziana. Nascia a rádio
Na noite de 24 de Dezembro de 1906, quando os navios ao largo da costa de Boston estavam à espera apenas de ouvir mensagens radiotelegráficas, em Morse, algo de surpreendente aconteceu. Começou a sair dos receptores de rádio uma agradável melodia de Natal, Oh Holy Night, tocada a violino, acompanhada de uma breve leitura de um trecho da Bíblia. Do outro lado, em Boston, Reginald Fessenden tornava-se o primeiro homem no mundo a conseguir emitir uma mensagem de voz via rádio, para desejar um bom Natal.São muitos os nomes que contribuíram para que a rádio que conhecemos hoje pudesse ser uma realidade. O britânico James Maxwell provou em 1863 que, teoricamente, as ondas electromagnéticas existiam. O trabalho de Maxwell vai ser aproveitado pelo físico alemão Heinrich Hertz, em 1887, que consegue fazer a primeira experiência que comprova o trabalho de Maxwell e em Itália, um jovem de 20 anos, chamado Guglielmo Marconi, junta as descobertas anteriores e envia os primeiros sinais de rádio.
Como Marconi também Alexander Popov na Rússia, o padre Landell de Moura no Brasil, o croata Nikolas Tesla, também terão feito experiências de telegrafia bem sucedidas, o que torna difícil definir quem terá feito a primeira transmissão de dados (mensagens Morse) via rádio.
Mas em 1897 Marconi regista a patente da sua descoberta, numa viagem a Inglaterra, com o número 12039. O acto acabaria por provar-se um rasgo de inteligência decisivo para que, em 1909 recebesse o Nobel da física pelo seu trabalho, juntamente com Karl Braun, o homem que inventou o tubo de raios catódicos, que mais tarde seria essencial para o aparecimento da televisão, mas que aqui foi reconhecido pelos seus múltiplos contributos para a telegrafia sem fios que mais tarde dará origem ao termo TSF.
De facto era esta a denominação, TSF, que começou a fazer escola quando se queria falar de comunicações por ondas electromagnéticas em código Morse, as primeiras formas de rádio. Era basicamente uma tecnologia que servia a marinha e daí esta força armada ter estado sempre na primeira linha do pioneirismo da rádio.
O termo rádio que hoje conhecemos foi um neologismo introduzido por outro grande contribuinte para a história deste media. O francês Édouard Bradley usou o termo como diminutivo de um aparelho que tinha inventado em 1890, o radioconductor, um detector de ondas rádio. O termo começou depois a ser usado pelo próprio Marconi quando este se queria referir, nos seus documentos, à telegrafia sem fios. O termo rádio acabou por ser adoptado pela marinha de guerra dos Estados Unidos a partir de 1912.
Mas de todos os nomes, Fessenden foi o que mais se aproximou, nas suas incursões, do conceito de comunicação de rádio que hoje conhecemos. Depois de ter feito, em 1900, as primeiras experiências de transmissão de voz, a noite de Natal de 1906 foi de facto o momento do nascimento do primeiro programa de rádio, emitido a partir de uma antena em Brant Rock, Boston que seria demolida em 1917.
O momento mágico inaugurado por Fessenden (a quem também é atribuído o desenvolvimento da transmissão em amplitude modulada, AM, juntamente com Lee de Forest), foi descredibilizado no meio científico e as primeiras emissões de rádio, que podemos assim chamar, começariam a surgir, na Europa e Estados Unidos, uma década depois daquela experiência da noite de Natal.
Fessenden, que construiu um vasto currículo no desenvolvimento de sonares, quer para detectar petróleo quer para detectar submarinos inimigos durante a I Grande Guerra ou para detectar icebergues como o que afundou o Titanic em 1912, e que participou na construção da grande barragem das cataratas do Niagara, registou 500 patentes mas acabou por morrer esquecido, em 1932, num refúgio nas Bermudas. Marconi e outros acabaram por convencer a comunidade científica mundial que o dia 24 de Dezembro de 1906 não tinha acontecido.
A casa de Reginald Fessenden, no número 45 de Waban Hill Road, Chestnut Hill, Newton, no Massachusetts, de onde há cem anos se tocou Oh Holy Night para a rádio, está classificada como um local histórico.