RUSSOS TÊM SAUDADES DA ERA BREJNEV

O antigo líder da extinta União Soviética nasceu há 100 anos. Desprezado na sua época, está agora ser reabilitado na consciência nacional, provocando sentimentos de nostalgia. Por Marina Lapenkova, Moscovo

Objecto de anedotas e risos durante o seu "reinado", Leonid Brejnev, nascido há 100 anos, é hoje idealizado pelos russos, que vêem a sua época como a "idade de ouro" de estabilidade, antes da perestroika de Mikhail Gorbatchov. Cerca de 30 por cento dos russos nutrem sentimentos positivos sobre Brejnev, contra um russo em cada dez que o detestam, permanecendo os restantes largamente indiferentes, segundo uma sondagem do Centro Levada publicada em Abril.
A título de comparação, o pai da "reconstrução", Mikhail Gorbachov, suscita sentimentos negativos em 30 por cento dos russos, contra 16 por cento que o acolhem com simpatia, de acordo com um outro estudo de opinião, este de Março.
"Objecto de desprezo na sua época, Brejnev é hoje reabilitado na consciência nacional e provoca entre os russos sentimentos de nostalgia", afirma o politólogo Boris Kagarlitski, citado pela AFP.
"Sob Brejnev, a polícia secreta não entrava pela casa das pessoas, como sob Estaline, e os criminosos não o fizeram como depois de [Boris] Ieltsin", acrescentou.
Após fortes transformações sociais ligadas à perestroika, os russos que perderam durante esse tempo as suas referências "vêem na época brejneviana uma coesão nacional" perdida, segundo o sociólogo Alexei Levinson.
A economia de mercado lançado nos anos 1990 fez baixar o nível de vida para metade dos ex-soviéticos, mesmo se um em cada cinco russos vive hoje melhor que antes, estima Kagarlitski.
Depois da revolução bolchevista, a Segunda Guerra Mundial e as represálias estalinistas, "os soviéticos tinham uma necessidade de trégua e Brejnev deu-lha", afirma Leonid Parfionov, autor de um documentário consagrado ao ex-líder da URSS. A sua época tornou-se a idade de ouro para os soviéticos pequeno-burgueses. Apareceram nas estradas os primeiros automóveis Lada, frigoríficos e aparelhos de televisão entraram nos apartamentos, sem esquecer os transístores que permitiram aos soviéticos escutar as emissoras Voz da América, apesar das interferências...
Quanto à televisão, difundiu abundantemente hóquei no gelo, o desporto preferido do líder do Partido Comunista (PCUS), e a patinagem artística, adorada pela sua mulher, Viktoria, sem esquecer os discursos omnipresentes de Brejnev, que gostava de falar em público apesar da sua dicção desastrosa e incapacidade total de memorizar textos.

Época aborrecidaEleito para a liderança do PCUS em 1964, Brejnev "nunca foi um bolchevique fanático", mas estava longe de defender o "degelo" político do seu predecessor, Nikita Kruschtchov.
"Sob a liderança de Leonid Brejnev ninguém ia para um campo de concentração por contar uma anedota política, embora difundir livros proibidos valesse seguramente a prisão", diz Kagarlitski, que foi preso em 1980, pela edição ilegal de uma revista literária.
"O poder actual é nostálgico desta época aborrecida, mas calma", afirma o politólogo, citando o lançamento pelo Kremlin do Partido Rússia Unida, uma cópia do PCUS, segundo ele, ou o movimento de jovens Nachi (Os Nossos), que lembra os Komsomols (Juventudes Comunistas) da época. AFP

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