Egoísta Como se faz uma revista caçadora de prémios
Publicação da sociedade Estoril-Sol ganha um
lugar permanente
no Museu da Publicidade, no Louvre, em Paris
Não é um livro, mas tem preço de livro. É uma revista mas não daquelas que ao fim de semana se coloca no contentor da reciclagem. Quem a compra gosta de guardar como um livro, de coleccionar, expor, apreciar, mimar. E até já foi aclamada como peça de museu. Chama-se Egoísta e, numa definição minimalista, é uma publicação trimestral institucional, da sociedade Estoril Sol, dona do maior casino da Europa, o Casino Estoril. Mas há quem lhe chame uma obra de arte.É de manhã e o ambiente é calmo porque Patrícia Reis, a editora e Francisco Ponciano, o produtor executivo da Egoísta, já têm o número de Dezembro em cima da mesa, um número especial, dedicado à paz, com mais de 300 páginas. Mas já têm a cabeça no próximo número, que sairá em Março de 2007.
Quantas pessoas são precisas para fazer uma revista que, em seis anos de existência, já ganhou 12 prémios? A resposta pode surpreender. Apenas sete. Patrícia Reis, editora da Egoísta, diz que não é fácil mas o facto de se tratar de uma equipa coesa, que permanece intacta desde o início do projecto, faz com que o trabalho na 004, a empresa onde, de três em três meses nasce uma nova Egoísta, seja possível.
A prova disso, mais uma, chegou no final do mês de Novembro: Na vigésima edição dos Epica Awards, Europe"s Premier Creative Awards, ganharam o bronze na categoria de publicações, o que faz com que conquistem um lugar permanente no Museu da Publicidade, no Louvre, em Paris. "Não há muitas revistas internacionais que tenham assim tantos Ponciano confessa que quando levanta o auscultador do telefone e dizem do outro lado que há mais um prémio para a revista, que normalmente lhe escapa sempre a mesma palavra: "Outro?"
Sempre que se começa a delinear um número Patrícia Reis pega no telefone. E pede entrevistas: "Eu vendo a minha mãe ao telefone, se for preciso. Mas normalmente quando eu peço um texto e me respondem que não têm tempo eu respondo que só preciso dele dentro de seis meses. Então eles não têm desculpa para dizer que não", explica, denunciando a estratégia que leva a que consiga reunir nomes sonantes nacionais como Eduardo Lourenço, Alice Vieira, Pedro Rosa Mendes ou Inês Pedrosa, mas também Paul Auster, por exemplo: "Não há pessoas difíceis. O máximo que podemos ouvir é um não."
O resultado final é sempre um desafio aos limites da criatividade: as rendas na revista dedicada ao sonho português, o prédio com janelinhas que se entreabrem e onde espreitam bonequinhos, na revista dedicada às cidades, ou uma capa lisa amarela, acompanhada de uma caixa de lápis de cor para decorar a gosto, na revista dedicada às crianças. Cada número custa 17,5 euros. Mas para o director Mário Assis Ferreira, administrador do Casino Estoril, não é possível comparar a Egoísta a outra revista.
"Quem é que deita a Egoísta para o lixo? É um objecto de colecção com uma forte carga literária e artística. Gostamos de pensar que as pessoas podem voltar a ler e reler a Egoísta como se faz com os livros de eleição", diz Assis Ferreira, para quem, mais do que uma revista, a Egoísta é "uma ousadia" que reflecte uma vontade de intervir no mercado de forma distinta e onde os objectivos não passam por vender mais mas por fazer mais e melhor: "É uma obra de arte, um artigo de luxo, uma extravagância."
Patrícia Reis frisa ainda que, apesar do que se possa pensar há limites até para a Egoísta, algo corroborado por Francisco Ponciano: "Não há ninguém com carta branca. Temos um orçamento rígido". E Patrícia acrescenta: "Não estamos sentados numa pilha de dinheiro. E não penso que fazemos aqui algo diferente de tudo o que existe ou que mais ninguém tem meios para fazer. Para quê? Para não conseguirmos melhorar? Pensar que apenas fazemos o nosso trabalho é uma maneira de manter o nosso trabalho mais saudável, para que o sucesso não nos suba à cabeça, para fazer sempre melhor."