João Mário Grilo filma documentário no Irão
Quinhentos anos depois de Portugal se ter tornado num dos primeiros países europeus a comercializar tapetes persas, o realizador João Mário Grilo vai fazer uma "viagem" ao contrário: vai para o Irão filmar um documentário, O Tapete Voador. "É possível pegar nos tapetes para perceber melhor uma enorme civilização e cultura da qual estamos cortados por questões políticas e por uma enorme incompreensão", disse ontem o realizador (que hoje, pelas 19h00, lança dois livros sobre cinema na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa).Grilo parte para o Irão em Janeiro para preparar o filme, que irá rodar na Primavera - ficará um mês e está prevista a passagem por Teerão, Isfahan e Shiraz. Será um filme de "resistência" contra os estereótipos (o Médio Oriente, diz, está configurado às imagens da televisão): "É uma cultura poderosíssima e que tem uma componente que me agrada muito que é a abstracção." A arte, diz, "estabelece ligações quando as outras forças procuram cortá-las, ligações entre civilizações e entre tempos".
O documentário parte de uma investigação da canadiana Jessica Hallett sobre o tapete persa em Portugal. "Portugal foi dos primeiros países a colocar os tapetes no chão - eram normalmente pendurados ou utilizados em cima dos móveis. O trabalho dela tem a ver com a presença da cultura dos tapetes através da pintura - existe um conjunto de quadros reais onde aparecem tapetes." O filme, que o realizador não quer classificar apenas como documentário, está concebido como um tapete. "O que é bonito num tapete é que há uma parte que se vê e outra que não. É um filme que gostaria que fosse o equivalente a um tapete e não a uma pintura."
Portugal será "sempre uma questão decisiva" no documentário pelo seu papel na "presença desta cultura na Europa" e que "é preciso compreender melhor". "A cultura dos outros é uma oportunidade de compreender melhor a minha cultura. A função do cineasta é passar essa oportunidade aos outros." Em Junho está prevista uma exposição no Museu Nacional de Arte Antiga com o mesmo título do filme, organizada pela investigadora canadiana. Joana Gorjão Henriques