Centro histórico de Évora enfrenta fuga de habitantes para a periferia

Autarquia diz que há 600 casas degradadas no perímetro amuralhado, que perdeu 12 mil habitantes

Duas décadas depois de classificado como património mundial, o centro histórico de Évora apresenta actualmente um quinto das casas degradadas, muitas delas em ruínas, e a esmagadora maioria da população "fugiu" para a periferia da cidade.É um cenário "muito grave", reconheceu o presidente da Câmara Municipal de Évora, José Ernesto Oliveira, nas vésperas das celebrações dos 20 anos da distinção da cidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). De acordo com o autarca, o centro histórico de Évora perdeu 12 mil habitantes em 30 anos, passando de uma população de quase 18 mil para pouco mais de 5600 pessoas.
Em paralelo com a "fuga" da população para as zonas periféricas, as casas do perímetro amuralhado, na maioria de propriedade privada, degradaram-se, exibindo muitas delas sinais de ruína. "São cerca de 600 casas, o que representa 20 por cento do nosso património habitacional", afirmou o presidente do município, admitindo a gravidade do problema, que ameaça a integridade do centro histórico.
"É preciso descobrirmos como é que vamos adaptar o centro histórico à função residencial para não deixarmos que se torne numa cidade de serviços que abre às 9h00 e fecha às 17h30", declarou. Para "vivificar" o centro da cidade, José Ernesto Oliveira aposta na recuperação dos edifícios degradados, que sofrem de falta de manutenção e conservação, má estrutura, problemas nas coberturas e deficiências nas caixilharias e acabamentos.
Contudo, a aposta enfrenta dificuldades, uma vez que a maior parte do património é privada e pertence a idosos, muitos reformados, com baixas reformas e "sem recursos para se abalançarem na recuperação, às vezes mais cara do que habitação nova". Neste quadro, o autarca defende a intervenção de poderes públicos, "capazes de, em parceria com os proprietários privados, alterar este estado de coisas".
A Câmara de Évora criou uma Sociedade de Reabilitação Urbana, denominada Évora Viva, para facilitar os processos de recuperação dos edifícios. "É um instrumento necessário para garantir a reabilitação do centro histórico, passando a autarquia a beneficiar de competências que, de outro modo, não podia usufruir, indispensáveis à agilização de processos", justificou o autarca.
Apesar destes problemas, o centro histórico de Évora, um dos 13 sítios portugueses classificados como património mundial, foi ontem apontado por uma representante nacional da UNESCO como "um dos mais bem preservados" núcleos urbanos do país. "Mesmo com 830 sítios classificados a nível mundial, a UNESCO está muito atenta a tudo e há sempre chamadas de atenção para que um Estado-membro, quando "pisa o risco", corrija a situação. Para Évora nunca houve essa necessidade", disse Manuela Galhardo, secretária executiva desta entidade.
A cidade alentejana, com um centro histórico com 104 hectares, tornou-se Património Mundial em 1986, quando foi reconhecida como "o melhor exemplo de cidade da Idade do Ouro portuguesa", permitindo compreender "a influência que a arquitectura portuguesa exerceu no Brasil". Lusa

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