Juromenha, um caso exemplar de abandono
Juromenha não é só o castelo, mas a sua localização torna esse local num dos sítios mais espectaculares. O horizonte perde-se no próprio horizonte seja para o lado do nascente (Espanha) seja para poente. Ao rés do Guadiana, hoje o grande lago, ergueu-se em tempos um castelo cuja origem remonta ao tempo da ocupação romana.Olhar a paisagem a partir do castelo de Juromenha é sentir a liberdade mais próxima do seu estado de pureza. Ali estão água, a terra e céu a assinalar a pequenez e a grandeza do ser humano.
Sem se saber porquê, tantas são as desculpas dos vários organismos, o castelo está em ruínas. Tiraram-lhe tudo o que tinha valor, nomeadamente da igreja que se encontra a seu lado. É uma dor de alma. Quem lá vai sente revolta pelo estado de abandono e pela desolação que o ambiente gera.
Desde logo por se tratar de um monumento histórico de assinalável grandeza, testemunho dos choques das várias incursões e tentativas de conquista deste reino que encontrou no Guadiana uma fronteira natural a separar Portugal de Castela. Depois porque, como já referi, o sítio é de uma majestade natural. Os elementos estão ali, à mão do olhar. Agarramo-los e guardamo-los na alma para sempre.
Ao que se sabe, Júlio César mandou cintar a povoação (Julie-moenia) com muralhas, tendo a ocupação árabe mudado o nome para Chelmena. Em 1167, D. Afonso Henriques fez dela terra portuguesa, tendo ficado a governá-la o conquistador de Évora, Geraldo Sem Pavor.
Passado é passado, mas a sua grandeza atiça a revolta. As ruínas do castelo trazem para o nosso quotidiano a desgraça do país e das suas instituições. A grande questão é: quem responde pelo abandono do castelo? O governo? A autarquia? Ambos em partes diferentes?
Ora, para juntar a todas estas desgraças, ocorreu mais uma que passo a narrar. A Região de Turismo de Évora, em colaboração com a Junta de Freguesia de Juromenha, organizou a visita ao Alentejo e a Juromenha de um importante número de jornalistas da União Europeia ligados à área de turismo. O objectivo era tentar mostrar as potencialidades do turismo e, nomeadamente, a importância que para Juromenha tem o investimento que leva a alterar o actual estado das coisas e o abandono a que está votada a povoação. O grande lago e a possibilidade de construção de um cais em Juromenha podem significar um grande impulso à reanimação de toda a freguesia e à consequente reconstrução do castelo e circundantes.
E em vez da grandeza do passado, o sr. presidente da Câmara Municipal do Alandroal revelou a pequenez dos que se pensam mais importantes que a própria importância das coisas importantes.
É do conhecimento público que o sr. presidente da câmara entende, ao contrário do tribunal, que as eleições para a Junta de Turismo de Évora não correram na observância da lei. Até agora, a sentença do tribunal considera as eleições legais. Porém, a megalomania do sr. presidente não aceita essa vontade e vinga-se na população de Juromenha. Como a delegação dos jornalistas tinha sido organizada pela Junta de Turismo de Évora, entendeu o sr. presidente não dar o seu apoio. E perdeu-se uma bela oportunidade de ser dada a conhecer na União Europeia Juromenha.
Foi esta povoação que perdeu e, naturalmente, o concelho do Alandroal. Quem ganhou na sua teimosia foi o sr. presidente, à custa naturalmente dos que perderam. Assim se escrevem as grandezas de uns e as misérias de outros. Em todo o caso, Juromenha merece mais.
Domingos Lopes
Deputado da Assembleia Municipal do Alandroal