Lesões cerebrais são as mais graves e as menos punidas
O fisiologista de esforço José Soares garante que o futebol é a modalidade colectiva tradicional com mais lesões
"As lesões na cabeça não são muito frequentes no futebol, mas são as mais graves e as que os árbitros menos punem." A conclusão é de José Soares, docente na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física do Porto, e baseia-se na sua experiência ao serviço da selecção, do FC Porto e do Boavista, entre outros, mas também em estudos científicos internacionais.Um exaustivo trabalho efectuado em Inglaterra, de 1992 a 2002, com os 2500 jogadores das quatro principais ligas, prova que as lesões cerebrais representam apenas cinco por cento do total de lesões no futebol. "Mas, no universo apenas das lesões graves, a percentagem de lesões cerebrais sobe para 20 por cento, a maior de todas", explica José Soares, que sublinha ainda ser, neste lote de lesões graves, que os árbitros mais deixam por marcar as faltas cometidas. Recorde-se que, aquando da lesão do segundo guarda-redes do Chelsea Cudicini, o árbitro não assinalou nada, mesmo depois de o italiano ter ficado inanimado no relvado.
José Soares insiste na necessidade de os árbitros "passarem a ter um papel decisivo e intolerante" em relação às lesões cranianas, responsabilizando-os por confundirem espectacularidade com gravidade. "Os chamados "carrinhos" por trás são punidos com expulsão, mas o mesmo já não acontece com os "carrinhos" de lado, que até provocam lesões mais graves, já que obrigam a um movimento antiatómico a quem é atingido", exemplifica, criticando os que valorizam de forma diferente se numa entrada violenta se toca ou não na bola.
O já referido estudo efectuado em Inglaterra (Auditoria às lesões) veio provar que a generalidade das lesões cerebrais no futebol ocorre nos jogos oficiais. Das 39 registadas, só uma tinha ocorrido na pré-temporada e nenhuma nos treinos. Ou seja, não é tanto o futebol que é perigoso, antes a agressividade conjugada com a obrigação de ganhar, como ficou provado noutro estudo feito nos EUA, segundo o qual, num universo de 86 lesões cerebrais, apenas oito foram na pré-época e as restantes 78 em competição. No Mundial de 2002, houve 20 lesões na cabeça: 11 contusões, quatro lacerações, uma fractura do osso do nariz e quatro concussões. Estas últimas são "lesões gravíssimas e mais frequentes nos pugilistas", vinca José Soares.
Outra evidência é que os números de lesões no futebol que afectam o crânio estão a crescer no futebol, que durante "muito tempo foi visto como uma modalidade em que as zonas mais lesadas eram os membros inferiores".
Até há poucos anos considerava-se que o futebol era menos perigoso que outras modalidades. Estudos recentes, especialmente norte-americanos, provam o contrário. "A taxa lesional no futebol é superior e não tem comparação com nenhuma modalidade colectiva", assevera José Soares, que destaca as 82 lesões, por mil horas de jogo, registadas no Mundial de 2002. "É um valor altíssimo", reforça. O especialista em fisiologia de esforço destaca ainda o "trabalho de prevenção" que se está a fazer em países como a Dinamarca e a Noruega, porque há factores de risco no futebol que podem ser controlados.