Carlos Fragateiro anuncia temporada centrada na dramaturgia em português
A programação do Teatro Nacional D. Maria II até Dezembro de 2007 foi apresentada ontem em Lisboa. São 38 espectáculos, dos quais 14 a partir de textos em língua estrangeira
O objectivo de Carlos Fragateiro fazer do Teatro Nacional D. Maria II um espaço da dramaturgia em língua portuguesa cumpriu-se. Na sua primeira temporada como director artístico, apresentada ontem, são os textos escritos em português que dominam.Até Dezembro de 2007, o nacional produz espectáculos com textos de escritores clássicos como António José da Silva (O Judeu), Camilo Castelo Branco, Osório de Castro, António Patrício e Luís Vaz de Camões e de contemporâneos como Chico Buarque, Manuel Rui, Ondjaki, António Lobo Antunes, Mia Couto, José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Inês Pedrosa, António Torrado, Diniz Machado e Lygia Fagundes Telles.
Em 38 espectáculos do programa há 14 produzidos a partir de textos em língua estrangeira: de Shakespeare, Beckett, Sinisterra, Sondheim, Nilo Cruz, Büchner, Goldoni, Manuel Martinez Mediero, Eric-Emmanuel Schmitt, Bryony Lavery, John Retallack, Homero e Virgílio. Vários espectáculos estão marcados para um espaço alternativo que a direcção, da qual faz também parte José Manuel Castanheira, está à procura.
"O D. Maria II é um espaço da língua portuguesa", sublinhou ontem Fragateiro durante a apresentação da programação. Também a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, disse que "corresponde de forma muito forte às expectativas do que deve ser um teatro nacional": "Desde logo pela defesa de uma programação centrada na língua e dramaturgia portuguesa ou de expressão portuguesa."
A opção de se centrar na dramaturgia portuguesa, expressa em Janeiro quando se soube que de Fragateiro iria substituir o anterior director António Lagarto, foi motivo de polémica e considerada populista - na altura Fragateiro disse ao PÚBLICO que o nacional se iria dedicar "exclusivamente" à dramaturgia portuguesa, mas acabou por recuar.
Fragateiro dirigiu o Teatro da Trindade durante quase dez anos, até há duas semanas abandonar a direcção por terem sido levantadas dúvidas sobre uma eventual incompatibilidade legal dos cargos. Quando foi escolhido para o D. Maria, disse que iria fazer uma programação diferente. Ontem, questionado sobre se achava que a programação apresentada para o nacional era, de facto, diferente, disse que não seria "a melhor pessoa para responder": "O Trindade é um assunto encerrado. [E o D. Maria] é fundamentalmente a casa da dramaturgia. A diferença penso que é total."
Jovens independentes estão ausentes
Entre os criadores portugueses estão encenadores da geração de Fragateiro, mas praticamente ausentes estão as jovens companhias independentes. O director justificou que "têm os seus espaços" e que o D. Maria "não é um espaço de acolhimento" mas "um teatro de projecto", daí "a diversidade de espectáculos" ser "tão grande". E falou de números: "Em média, o D. Maria teve 40 mil espectadores por ano, quando um teatro nacional devia ter pelo menos 100 mil."
Outra aposta, disse, vai ser a circulação dos espectáculos pelo país, "que rentabiliza e potencializa o investimento público que o Estado faz". Há ainda as oficinas com a espanhola Ana Zamora, o italiano Gianluigi Tosto, o brasileiro Aderbal Freire-Filho e Nuno Cardoso. Em Julho e Agosto, durante a presidência portuguesa da União Europeia, o teatro vai estar aberto.
Fragateiro vai ter para esta temporada o dobro do orçamento para programação que Lagarto anunciou para a temporada anterior: três milhões de euros.
O orçamento total dado pelo Ministério da Cultura (que inclui o de funcionamento) será sensivelmente o mesmo (5,2 milhões), mas a verba aumenta para 6,7 milhões com co-produções, bilheteira, parcerias e um patrocínio não especificado.