O padre Vaz Pinto confessa-se nas suas memórias
Livro autobiográfico,
A História
de Deus Comigo,
é hoje apresentado
em Lisboa
Homem dos sete ofícios, padre jesuíta, esteve na origem de projectos como o Banco Alimentar Contra a Fome ou os Leigos Para o Desenvolvimento. Desempenhou também o cargo de alto comissário para a Imigração e Minorias Étnicas. O padre António Vaz Pinto publicou agora A História de Deus Comigo (ed. Alêtheia), um livro de memórias, que hoje é apresentado em Lisboa (Grémio Literário, 18h30). Por ele se ficam a conhecer aspectos menos conhecidos, como as origens familiares, as amizades ou as namoradas com quem se relacionou. António Vaz Pinto escreve, numa introdução ao livro (que terá nova apresentação em Serralves, no Porto, dia 16, às 18h30), que estas memórias deveriam ser lidas com um carácter "muito especial: o "herói", o "actor principal" desta história não sou eu, é Deus". E manifesta o desejo de que a obra não seja "um monumento de vaidade, uma estátua de narcisismo, a chamar a atenção e a admiração". Ao mesmo tempo, e por pudor e respeito para com pessoas ainda vivas, confessa que, nestas memórias, escreve a "verdade, mas não (...) toda a verdade".
Nascido em Lisboa a 2 de Junho de 1942, Vaz Pinto diz que é a Arouca, onde a família viveu, que regressa sempre que pode: a terra e a casa de família "não são apenas algo de remoto e de passado", antes uma "presença, uma referência contínua", para a qual o autor volta "permanentemente o olhar".
Penúltimo de doze irmãos, o pai de António Vaz Pinto foi magistrado, até desempenhar o cargo de presidente do Supremo Tribunal Administrativo. Dele, o filho diz que "foi uma das mais notáveis figuras humanas" que conheceu. "Uma presença forte, discreta, contínua, tutelar, uma forte, positiva e marcante imagem de Deus, de Deus-Pai."
Da mãe, guarda o padre Vaz Pinto a memória de uma mulher de "incansável dedicação e serviço ao próximo", mais "emotiva do que o pai", mas ambos profundamente católicos.
Quando nasceu, em plena Guerra Mundial, sem táxis nem transportes públicos, o pequeno António foi para casa a pé: metido numa ceira de palha, foi levado pelos pais da Maternidade de Alfredo da Costa até ao Campo Grande, onde a família morava.
"Vale a pena viver"Foi já na Faculdade de Direito, que frequentou juntamente com outros portugueses conhecidos - Mota Amaral, Basílio Horta, Manuela Eanes, Freitas do Amaral, Jorge Miranda, entre outros -, que se manifestou o desejo de ser padre. Antes de decidir entrar para os jesuítas, namorara com uma russa, identificada por Y. Confessa que, nessa altura, se via como ideologicamente moderado e pouco participativo nos movimentos associativos.
Enfrentou uma crise de fé e, já na Alemanha, quando estudava Teologia e se preparava para ser ordenado padre, apaixona-se de novo - "a grande tormenta", como ele lhe chama no livro. Acaba por decidir ser padre. O 25 de Abril apanha-o ainda a estudar em Frankfurt. Regressa pouco depois a Portugal e conta a sua participação em vários actos contra a dominação política do Partido Comunista.
O resto da história é mais conhecido: está nas equipas ou na ideia original da criação de dois centros universitários (Coimbra e Lisboa) ligados aos jesuítas, do Banco Alimentar Contra a Fome, da organização não-governamental Leigos para o Desenvolvimento. Diz, no fim, que "valeu a pena ser homem, ser cristão, ser padre, ser jesuíta" e que "vale a pena viver".
Título: A História
de Deus Comigo
Autor: P. António Vaz Pinto, S.I.
452 pág.,
18 euros