Geórgia denuncia limpeza étnica
O Governo da Geórgia afirmou ontem que o modo como as autoridades russas lidam com o conflito diplomático entre os dois países é "uma forma branda de limpeza étnica". A crise poderá estar a ser também manipualda pelos serviços secretos russos para reforçar o poder económico. "Isto não é só xenofobia", declarou ontem o ministro georgiano dos Negócios Estrangeiros, Gela Bezhuashvili, citado pela BBC. E garantiu que as acções de Moscovo terão consequências.
O Presidente russo, Vladimir Putin, apelou por sua vez à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OCSE). "Os esforços da OCSE devem ser concertados para estimular a correcção da actual direcção da Geórgia, que visa aumentar a tensão e preparar a "solução" militar dos conflitos georgiano-abkhase e georgiano-osseta meridional". E acrescenta: "A irresponsabilidade das autoridades georgianas não podem continuar fora do campo de visão da comunidade internacional".
Mas a crise tem também motivações ligadas à política interna. "Com toda esta campanha, os representantes dos serviços secretos russos querem fazer aumentar a popularidade do ministro da Defesa, Serguei Ivanov, um dos possíveis sucessores de Putin à Presidência em 2008", declarou ao PÚBLICO uma fonte em Moscovo. Ivanov tem feito as declarações mais belicistas durante a crise.
A última sondagem, publicada na semana passada, dava-lhe apenas 4 por cento das intenções de voto. O seu mais provável adversário, Dmitri Medvedev, vice-primeiro-ministro conotado com sectores liberais, teria 14 por cento.
Segundo a mesma fonte, os representantes dos serviços secretos nas estruturas do poder utilizam a crise para controlar a propriedade dos "grupos étnicos", com um peso significativo na economia do país.
Putin mandou "limpar" os mercados dos "intermediários étnicos". Por isso, diz, depois dos georgianos, chegará a vez dos azeris, arménios, judeus...
Uma medida idêntica foi tomada contra empresários tchetchenos durante as operações militares contra os separatistas na Tchetchénia, iniciadas em 1999.
Intelectuais na listaOntem, as autoridades detiveram uma dezena de jovens activistas que manifestavam o seu apoio à porta da embaixada de Tblissi em Moscovo.
Tendo começado com a proibição da importação de vinhos e águas minerais, com o encerramento de casinos e restaurantes alegadamente sob o controlo de "grupos criminosos georgianos", a campanha chegou aos alunos das escolas de Moscovo com apelidos georgianos e aos intelectuais nascidos na Rússia mas com antecedentes na Geórgia.
É o caso do escritor Grigori Tchkhartichvili, mais conhecido pelo seu pseudónimo Boris Akunin, um dos maiores expoentes da literatura russa. Não fala sequer georgiano. Mas a editora que o publica começou a ter problemas com as autoridades fiscais. "Foi dito claramente que aos inspectores interessam as relações da editora comigo", declarou o escritor, acrescentando que "nos últimos dias, tem havido no país, e utilizo a palavra de propósito, uma histeria fascista".
A Câmara de Contas da Federação da Rússia acusou a Academia de Belas Artes, dirigida pelo escultor de origem georgiana Zurab Tsereteli, de "gastos indevidos de 1,2 milhões de rublos" (cerca de 360 mil euros). José Milhazes, Moscovo