Robô pintor de Leonel Moura vai para o Museu de História Natural de Nova Iorque
O "RAP" ficará no núcleo de novas tecnologias. Pretende-se que levante questões ligadas
à pós-humanidade
Vanessa Rato
É, diz o artista, o maior, mais complexo e autónomo dos seus "robôs pintores". Em breve será uma das peças em exposição na Ala da Humanidade do Museu de História Natural de Nova Iorque, que, depois de obras de renovação, deverá reabrir ao público até ao final do ano. O robô pintor "RAP" - iniciais para "robotic action painting" - faz desenhos a marcador sobre tela. Autonomamente, decide cada traço da obra e o momento em que esta fica pronta. Conclui-a com a sua própria assinatura e, no fim, dá ordem a uma outra máquina para receber mais papel.
Segundo Leonel Moura, a realização de cada desenho demora, em média, cinco horas. O apoio humano de que o robô precisa é "mínimo": pilhas novas a cada 12 horas e canetas substituídas uma vez gastas.
Na nova Ala da Humanidade do Museu de História Natural, dedicada à evolução do Homem - começa com a exibição de fósseis -, fará parte do núcleo das novas tecnologias e será um dos elementos destinados a uma reflexão sobre a pós-humanidade. Em princípio, os seus desenhos ficarão à venda.
Segundo Leonel Moura, o museu, um dos mais antigos e visitados do mundo - três milhões de entradas por ano -, poderia ter encomendado um qualquer robô de fabrico japonês mas preferiu ficar com um "robô artista", por este levantar de forma mais profunda um sem número de questões ligadas à natureza humana.
"O que é interessante nisto é o facto de os robôs artistas questionarem aquilo que distingue a essência do homem em relação aos animais, que é a sua capacidade de criar arte", diz o criador de "RAP".
Leonel Moura, que fez as primeiras experiências de arte robótica em 2001, com um braço mecânico ligado a um computador e a um programa de inteligência artificial - fazia "pinturas não-humanas" -, começou o projecto "ArtsBot" em 2002 com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Baseou-se no comportamento dos chamados insectos sociais, utilizando a cor como uma espécie de feromona capaz de levar os robôs a concentrar cor em determinados pontos da tela. Em 2004 apresentou este projecto nos Estados Unidos, num encontro de arte robótica onde acabou por ser convidado pelo Museu de História Natural para conceber um robô preparado para estar em exposição prolongada.
"RAP" foi concebido em colaboração com a empresa portuguesa IdMind e investigadores portugueses e holandeses. Até amanhã poderá ser visto em acção em Lisboa, no átrio central do edifício sede da Caixa Geral de Depósitos, mecenas da sua instalação no Museu de História Natural. Também amanhã, mas na Galeria António Prates, no Chiado, Leonel Moura apresenta um novo robô: em vez de fazer desenhos, destrói imagens.
Segundo o artista, a próxima etapa da sua pesquisa será dedicada à modificação dos robôs para que eles possam evoluir a partir das suas próprias experiências.