Estudo diz que Mona Lisa estava grávida ou acabava de ser mãe
Pela primeira vez em 50 anos, 47 especialistas analisaram a fundo o famoso retrato fora da sua caixa de vidro
Estaria a modelo de Mona Lisa a sorrir por estar grávida ou por ter sido mãe há pouco tempo? Uma equipa de 11 cientistas do National Research Council do Canadá (CNR) e dezenas de colegas franceses dizem que as duas hipóteses são possíveis. As primeiras conclusões do estudo que está a ser feito desde 2004 sobre o famoso retrato que Leonardo da Vinci pintou entre 1503 e 1506 apontam para uma série de alterações à composição e garantem que não está em risco de se deteriorar.
A análise da obra, a primeira em 50 anos e a mais completa de sempre, foi feita com uma moderna tecnologia laser, semelhante à da câmara usada pelos astronautas da NASA no space shuttle Atlantis. Os cientistas usaram um scanner 3D, com uma resolução dez vezes mais fina que um cabelo, que lhes permitiu construir um modelo tridimensional virtual de Mona Lisa.
Mas, apesar da alta tecnologia envolvida, continuam sem saber como chegou Leonardo ao seu famoso sfumato - técnica de sobreposição de camadas de cor para dar a percepção de profundidade, volume e forma -, de que Mona Lisa é um dos melhores exemplos. "A técnica não é comparável a nenhuma que tenhamos visto antes", disse terça-feira aos jornalistas um dos principais responsáveis do NCR, John Taylor, citado pela BBC.
As imagens de alta resolução criadas pelos especialistas a pedido do Museu do Louvre, onde o quadro está exposto, revelaram os traços escondidos pelas finas camadas desta pintura, considerada a obra de arte mais famosa do mundo e vista por seis milhões de pessoas por ano.
O estudo concluiu que o retrato é frágil mas não inspira cuidados desde que mantenha as condições de exposição. O quadro é exibido numa caixa estanque em vidro à prova de bala e de fogo, com temperatura e humidade constantes. Mona Lisa só sai da vitrina uma vez por ano, e durante uma noite, para exames de rotina.
Apesar de o painel de madeira em que foi pintado apresentar algumas fissuras, o retrato não tem a tinta a destacar-se, "o que, para uma obra com 500 anos, é uma excelente notícia", acrescentou Taylor ao Le Monde.
O estudo que acaba de ser publicado em livro (Au Coeur de La Joconde), e que teve a colaboração de 36 investigadores franceses, conclui que a suposta modelo de Leonardo, Lisa Gherardini, mulher de um mercador de Florença, estaria grávida ou acabava de ser mãe.
A hipótese de o quadro ter sido encomendado para comemorar o nascimento do terceiro filho do casal é avançada pelo conservador Bruno Mottin por causa dos traços subjacentes às camadas de tinta. Os cientistas descobriram que o mestre da Renascença chegou a envolver Lisa num véu fino e transparente que estava preso à gola do corpete, usado no século XVI pelas mulheres que tinham tido filhos há pouco tempo.
Numa primeira fase, defendem ainda, Leonardo pintou Mona Lisa com o cabelo apanhado, o que, diz Mottin, seria hábito numa mulher da sua condição social: "[O cabelo solto na época] era típico das jovens e mulheres de má virtude".
As imagens do quadro, recolhidas pelos canadianos em apenas 16 horas sem nunca lhe terem tocado (apenas o conservador do Louvre foi autorizado a fazê-lo), continuarão a ser estudadas para reunir mais informação sobre o estilo, a técnica e a composição de Leonardo. François Blais, director da equipa, garante no site do CNR que vão tentar captar "a sensação de profundidade luminosa" dos olhos de Lisa. "Esta pintura incrível está a forçar a nossa tecnologia a atingir um nível ainda mais alto", diz Blais.