Paulo Coelho, o escritor espiritual que também é uma popstar
Um terço de A Bruxa de Portobello, que hoje chega às bancas, foi publicado no blogue do escritor. Coelho diz que o contacto com
os leitores o enriquece como escritor
Entrou para o Livro dos Recordes do Guinness em 2003, por ser o autor que mais livros autografou em diferentes edições - 52 -, e é o escritor brasileiro mais vendido em todo o Mundo. Mas é espiritual, o que se reflecte na sua obra, e classifica-se como "um peregrino". Esta é a vida dupla de Paulo Coelho, que lança hoje em simultâneo a sua nova obra, A Bruxa de Portobello, em Portugal, no Brasil e na América Latina.Popstar ou guia espiritual? O escritor que já vendeu 75 milhões de livros (dois milhões só em Portugal) diz que não existe conflito entre a espiritualidade e a celebridade. "Chegar aqui e ser abordado significa que as pessoas entendem minha alma, que há comunicação, há alegria." Mas isso também lhe custa algumas interpretações erradas. "Os leitores identificam-se muito comigo e com o que escrevo, mas muitas vezes me olham como aquilo que não sou, que é como profeta", disse o escritor, anteontem, na apresentação do livro em Lisboa.
A Internet tornou-se um dos seus instrumentos favoritos para divulgar a obra e chegar aos leitores. Diz que assim consegue "o que faz falta", ou seja, "o contacto entre as pessoas". Por isso mesmo, Paulo Coelho publicou um terço de A Bruxa de Portobello no seu blogue, em cinco línguas, antes de que uma única página fosse impressa, permitindo que os leitores comentassem livremente a sua nova obra, que, diz, serve apenas como catalisador para a discussão.
"O contacto com o leitor alimenta a alma do escritor. É ele que me enriquece", explicou o autor, de 59 anos. E é por esse motivo que Paulo Coelho o procura, quer seja através de um portal na Internet em que agora está a investir, quer seja interrompendo a sua "peregrinação" para assinar autógrafos.
A bruxa é a energia feminina e a diferença
Em Março último, o autor resolveu revisitar de carro o Caminho de Santiago, em Espanha, que já havia percorrido a pé 20 anos antes. Depois, resolveu vir para Portugal e pediu a Mário Moura, editor da Pergaminho, que publicou 13 dos seus livros em Portugal, que organizasse sessões de autógrafos em duas das cidades por onde passou - Guimarães e Fátima.
Foi do contacto com estes e outros leitores que nasceu a história de Athena, a bruxa de Portobello. A obra, cuja acção se desenrola principalmente em Londres, é o conjunto de relatos das pessoas que conviveram com a bruxa, perseguida pela igreja, e que representa a energia feminina e o risco de ser diferente. "Um risco que vale a pena", diz.
Paulo Coelho considera que os seus livros são de "autoproblema" e não de "auto-ajuda" (como muitas vezes são chamados), e acrescenta que o problema que A Bruxa de Portobello retrata é o desafio de nos enfrentarmos a nós próprios, a partir do que os outros pensam. "Somos aquilo que os outros pensam de nós; somos o espelho dos outros."
O autor de A Bruxa de Portobello acredita que o livro vai ser bem recebido, e já está a preparar o seu lançamento, em Março de 2007, em França e Itália. A obra, revela, vai ser ainda editada em mais 40 línguas. Nada de novo para a "indústria" do escritor, cujo volume de negócios, segundo o seu site oficial, ascende a cerca de 788 mil milhões de euros em venda de livros e direitos de autor, em mais de 150 países e 62 línguas. A sua fortuna pessoal - que já superou Jorge Amado em 21 milhões de livros vendidos - foi avaliada em 79 milhões de euros.
200 mil livros por ano em Portugal
Em Portugal, diz Mário Moura, Paulo Coelho valoriza o esforço do editor e de distribuição da sua editora, a Pergaminho, que adoptou uma estratégia que permitiu alcançar cerca de dois mil postos de venda alternativos, entre supermercados e lojas de conveniência. E os resultados estão à vista: o autor vende cerca de 200 mil exemplares no mercado português por ano, mesmo quando não lança nenhum livro.
Mas nem os milhões de obras vendidas salvam Paulo Coelho das críticas, algumas da Academia Brasileira de Letras, associação que promove a língua e cultura brasileiras, e da qual é agora membro. "Nunca houve briga entre nós", diz o escritor, "mas críticas aceitáveis". Em relação aos outros críticos, não tem "mais nada a provar".
Da popularidade serve-se para outras causas em que acredita - criticou, há três anos, num texto publicado no jornal francês Le Monde, George W. Bush, agradecendo ironicamente a guerra no Iraque ao presidente norte-americano.
Escrever livros, porém, continua a ser o seu "prazer, dor e excitação".