Morreu José Sommer Ribeiro, director da Fundação Arpad Szenes -Vieira da Silva
É unânime o seu papel determinante na arte em Portugal. Foi fundamental na criação da colecção do Centro de Arte Moderna
José Sommer Ribeiro, director da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva desde a sua abertura, morreu sábado em Lisboa, em consequência de um cancro. Tinha 82 anos. Sommer Ribeiro, que nasceu em Lisboa a 26 de Junho de 1924, teve uma vida ligada à arquitectura e às artes plásticas. Como arquitecto (tirou o curso na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa), foi co-autor do relatório para a localização da sede e do museu da Fundação Calouste Gulbenkian, para além de mais tarde ter feito parte da equipa dos arquitectos que venceram o concurso - Rui Atouguia, que também morreu em 2006, Alberto Pessoa e Pedro Cid. Foi responsável pela equipa que concebeu os interiores da sede e do museu. Foi ainda co-autor do projecto de arquitectura do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), em colaboração com Leslie Martin.
Tem outros projectos significativos: a co-autoria da Residência André de Gouveia na Cidade Universitária de Paris e da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, e desenhou a Casa de Bocage, em Setúbal, e o Museu de Óbidos.
A GulbenkianNas artes plásticas, desempenhou um papel importante na Gulbenkian, onde a partir de 1969 foi director do Serviço de Exposições e Museografia. Em 1981 tornou-se o primeiro director do CAMJAP, de onde saiu em 1993 para se tornar o primeiro (e único até hoje) director da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, onde era também administrador.
Segundo Jorge Molder, actual director do CAMJAP, José Aleixo da França Sommer Ribeiro, nome completo, teve "um papel completamente decisivo" nas artes em Portugal, "de reestruturação em termos globais". Foi ele, diz Molder, o primeiro a "organizar de um forma sistemática exposições antológicas e retrospectivas de artistas portugueses", como António Sena, Jorge Martins, Júlio Pomar, Alberto Carneiro, entre muitos outros. "A configuração da arte em Portugal passa por ele", acrescenta Molder sobre o seu antecessor.
Ainda segundo Jorge Molder, Sommer Ribeiro teve também um "papel decisivo na constituição da colecção do CAMJAP" e na "operação Amadeo" - sem a sua acção as obras de Amadeo de Souza-Cardoso não estariam na colecção.
O pintor Jorge Martins considera também que José Sommer Ribeiro teve "uma importância de grande relevo na arte portuguesa". "Fez um trabalho notável na Gulbenkian e depois no Centro de Arte Moderna. Era uma figura que precedeu a actual figura dos comissários, um homem multifacetado, muito aberto, com muita cultura. Não há muita gente com a sua abertura e a sua capacidade de organização."
José Sommer Ribeiro organizou mais de 600 exposições em Portugal e no estrangeiro. Foi também comissário da representação portuguesa na Bienal de São Paulo desde 1969 até 1996. Regeu ainda a cadeira de Exposições e Instalações do Mestrado em Museologia e Património, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, entre 1993 e 95.
A Fundação Vieira da Silva
Foi também ele que "esteve na génese" da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, diz Marina Bairrão Ruivo, conservadora da fundação, e "nas negociações com Vieira da Silva. "A todos os níveis o seu envolvimento e o papel dele foram decisivos. Foi o elo entre a Vieira e o Governo [na altura liderado por Cavaco Silva]." A fundação abriu em 1994 e desde aí, Sommer Ribeiro "esteve sempre presente no que toca a Portugal e a Vieira. Organizou as grandes retrospectivas de Arpad e Vieira da Silva em Portugal". Para Marina Bairrão Ruivo, a fundação "fez um percurso, graças a ele, muito positivo. Sem ele talvez não existisse. Sem ele não era tal como é hoje." Foi também graças às ligações a Jorge de Brito que na fundação estão as obras de Vieira da Silva que fazem parte da colecção do empresário.
Qual vai ser o futuro da fundação? "No fundo é o que já era. O problema é financeiro [o orçamento é de 400 mil euros, menos 30 a 40 por cento, diz, do valor atribuído pelo Ministério da Cultura há 12 anos]. Estamos à espera do mecenato para poder fazer projectos mais sólidos. E há o problema da colecção Jorge de Brito." O coleccionador morreu já este ano e a fundação está num impasse, sem saber o que querem fazer os herdeiros. A saída das cerca de 20 obras será uma perda enorme para o museu.
Sommer Ribeiro, que deixa mulher e duas filhas, é hoje cremado no cemitério do Alto de São João, às 14h30. Antes, há uma missa de corpo presente na Basílica da Estrela (12h30). Segundo a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, morreu um homem "que ajudou a mudar nos anos 60/70 o panorama das águas relativamente estagnadas das artes plásticas em Portugal". Para Pires de Lima, Sommer Ribeiro tinha "um espírito muito vanguardista, era um grande dinamizador", e tinha "uma visão de cultura muito avançada para o seu tempo".