Há 40 anos morreram 25 soldados num inferno de chamas na serra de Sintra
"Eu ouvi-os gritar. A pedirem água. A pedirem socorro. Coitadinhos, morreram todos." Estas são as memórias que Luciano Policarpo Duarte, de 64 anos, tem do fatídico dia 7 de Setembro de 1966 na serra de Sintra, quando 25 militares do Regimento de Artilharia Fixa de Queluz morreram durante o combate a um gigantesco incêndio que durou sete dias. Os homens que faleceram há 40 anos no Pico do Monge, em plena serra, foram ontem homenageados nesse mesmo local por militares, bombeiros e pelo presidente da Câmara de Sintra. Uma cerimónia contida mas sentida, sem grandes discursos, no meio de uma serra calma e verdejante, que se tornou num inferno de fogo, com uma frente de 20 quilómetros, nesse dia em que um pelotão do exército com 37 homens ficou encurralado no meio das chamas. Vinte e cinco jovens não conseguiram fugir à morte e, como ontem foi lembrado no discurso dos seus camaradas de armas do Regimento de Artilharia Antiaérea n.º 1, no mesmo dia da tragédia, D. António de Castro Xavier Monteiro, arcebispo de Mitilene, afirmou na missa que celebrou em memória das vítimas: "Mortos de Sintra presentes. A serra vos deu a morte, que ela vos dê a imortalidade merecida." No alto do Pico do Monge está um monumento em sua homenagem, onde ontem foram depositadas coroas de flores e rezada uma prece pelo oficial capelão. No local da tragédia, onde na tarde de dia 8 de Setembro dois engenheiros encontraram os corpos sem vida, erguem-se 25 ciprestes em sua memória. Luciano Duarte, o homem que cerca das 16h30 da tarde de 7 Setembro de 1966 foi testemunha da tragédia, ontem tinha lágrimas nos olhos ao recordar aquele dia que nunca mais esqueceu. Tinha saído da Malveira da Serra, onde ainda hoje reside, para ajudar no combate ao incêndio, mas os bombeiros aconselharam-no a molhar um lenço para proteger a cara e a sair do local. O fogo estava incontrolável. Ao avançar uns metros viu o carro do exército a arder e do meio da serra vinham as vozes. "A pedirem água. A pedirem socorro. Não tinham fatos especiais, só tinham paus para lutar contra as chamas. Ficaram lá todos." Anabela Mendes