Fundador de mosteiro com homens e mulheres fala a 400 padres portugueses
Simpósio debate individualismo
pós-moderno e formas de vida do clero
O prior do mosteiro de Bose (Norte de Itália), que fundou na década de 60 um mosteiro que reúne homens e mulheres de várias Igrejas cristãs, está hoje em Fátima, onde se dirigirá a 400 padres portugueses que participam no V Simpósio do Clero. Enzo Bianchi, que tem livros publicados sobre temas como o diálogo com o islão, o monaquismo cristão ou a poesia e espiritualidade, tratará dois temas: Comunidade e individualismo contemporâneo e Comunhão eclesial: caminhos plurais. A comunidade de Bose (www.monasterodibose.it) é uma das experiências inovadoras do cristianismo contemporâneo, não restrita a católicos. O mosteiro acolhe pessoas interessadas em fazer a experiência de uma comunidade de homens e mulheres que se definem "em busca de Deus, no celibato, na comunhão fraterna e na obediência ao Evangelho". Enzo Bianchi, leigo, nascido em 1943, é o fundador desta comunidade diferente de monges e monjas.
A solidão dos padresNo simpósio, o prior de Bose referiu-se ontem a um dos problemas que muitos padres enfrentam no seu quotidiano, sobretudo na situação de párocos: o facto de viverem sozinhos. Uma das soluções que apontou é a criação de unidades operativas ou pastorais, com vários padres a viver em conjunto, tomando conta de diversas paróquias.
Um inquérito realizado no primeiro simpósio dava conta que o principal problema sentido pelos padres presentes - cerca de 700, na ocasião - era a solidão. Já nessa altura se falava na criação de unidades com vários padres encarregues de diferentes paróquias, mas até hoje não se deu qualquer passo do género.
Esta é uma questão que não está, no entanto, no centro dos debates do simpósio, dedicado ao tema O presbitério em comunhão. Ao serviço da comunhão eclesial. "Pretende-se aprofundar o individualismo pós-moderno e a forma como os padres são desafiados a viver a comunhão", diz ao PÚBLICO o padre Jorge Madureira, 44 anos, secretário da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios.
A forma como a comunhão pode ser vivida nos espaços eclesiais e nas estruturas de participação é um dos aspectos debatidos nos dois dias já decorridos. José Carlos Carvalho, professor da Universidade Católica e um dos responsáveis da organização, diz que o balanço feito pelos participantes sobre as estruturas de decisão na Igreja é de "alguma desilusão" com esses espaços, apesar de algumas experiências positivas. Estão em causa organismos como conselhos pastorais paroquiais, onde têm assento os párocos e também
leigos. António Marujo