Tropas europeias poderão constituir metade da força das Nações Unidas no Líbano
Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE vão reunir-se na próxima sexta-feira para definir as suas contribuições
A União Europeia poderá enviar até 9000 homens para a força das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), o que significa que, a concretizar-se esta estimativa feita pelo ministro italiano dos Negócios Estrangeiros Massimo D"Alema, a UE contribuirá com cerca de metade dos 15 mil capacetes azuis pedidos pela resolução 1701 do Conselho de Segurança, que estabeleceu a trégua entre o Hezbollah e Israel."As tropas italianas, entre dois mil e três mil [soldados], vão representar perto de um terço do total enviado pela Europa", precisou D"Alema numa entrevista publicada ontem pelo jornal italiano La Repubblica, com a ressalva de que Roma "não pode mandar soldados para o Líbano se o Exército do Tsahal continuar disparar". Na segunda-feira, três combatentes do Hezbollah foram mortos pelo Exército israelita a quatro quilómetros da fronteira.
Os números apresentados pelo ministro fazem com que a Itália passe a ser o país que, até agora, mais soldados prometeu enviar para o Líbano. Segundo D"Alema, também a Espanha, os países nórdicos, a Holanda e a Bélgica vão colaborar na força, apesar de não haver ainda números divulgados. O calendário para a mobilização das forças começa a tornar-se mais apertado, dado que se mantém a intenção da ONU de enviar um contingente inicial de 3500 homens, no próximo dia 2 de Setembro. Israel já se manifestou contra a presença de capacetes azuis do Bangladesh, da Indonésia e da Malásia, por não terem laços diplomáticos com o Estado judaico.
Entretanto, a Presidência finlandesa da UE anunciou que na próxima sexta-feira vai reunir os 25 ministros dos Negócios Estrangeiros europeus (ver declarações de Luís Amado pág. 8) num conselho extraordinário, com o propósito de discutir "as contribuições dos Estados-membros para a UNIFIL e as condições necessárias para fazer da operação um sucesso". A reunião vai contar com a presença do secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Enquanto os países europeus continuam a reflectir, um responsável das Nações Unidas no Médio Oriente, Terje Roed-Larsen, admitiu que, "nos próximos dois ou três meses, vão existir enormes vulnerabilidades no Líbano". "Até à força libanesa estar completamente mobilizada, ter aplicado a sua autoridade total e uma robusta força de manutenção de paz estar no terreno, vai haver um vácuo de segurança", afirmou Roed-Larsen à Associated Press.
O jornal francês Le Monde revelou ontem um documento intitulado ONU Confidencial, que define as regras para o comportamento da reforçada UNIFIL, no terreno. De acordo com o texto de 21 páginas, as tropas das Nações Unidas deverão operar segundo princípios "de natureza principalmente defensiva", mas poderão usar "força apropriada e credível, se necessário".
Esta revelação acontece uma semana depois de o chefe da missão das Nações Unidas no Líbano, o general francês Alain Pellegrini, ter pedido ao Conselho de Segurança que as suas tropas fossem autorizadas a tomar "medidas fortes" para assegurar a trégua.
Mas os capacetes azuis não irão "procurar activamente as armas do Hezbollah", deixando essa tarefa para o Exército libanês. Apesar de fazer essa ressalva, uma fonte da ONU citada pelo Monde frisa: "Se um camião passar com armas, será parado. Se tentar forçar a passagem, será utilizada força letal."
As funções da UNIFIL serão "patrulhar as ruas, de dia e de noite, mostrar a sua presença e dar conta do que se passa na região". Segundo fonte anónima do diário francês, as tropas das Nações Unidas farão os seus possíveis por ficar "de fora" de eventuais confrontos, excepto em situações que envolvam civis, quando serão aplicadas "contramedidas", como "o bloqueio das vias de acesso ou o destacamento de observadores, mesmo que isso seja muito perigoso".