Paula Rego tem "museu ideal" para as suas obras em Cascais
Eduardo Souto Moura projectou um museu que a pintora quer que seja "divertido" e "cheio de maldades"
Nem em Londres, onde vive, nem noutro sítio: o museu ideal para mostrar as obras de Paula Rego, segundo a pintora, é o que o arquitecto Eduardo Souto Moura projectou para Cascais, na Parada. "O museu ideal para mim é aqui. É um sítio mágico, muito especial, com aquela torre e aquela praia. Não poderia ter um sítio melhor", disse ontem a pintora numa conferência de imprensa depois de assinar, na Câmara Municipal de Cascais, o contrato de doação e empréstimo de obras suas para a Casa das Histórias e Desenhos Paula Rego. Foi, aliás, a artista que sugeriu o nome de Souto Moura (Prémio Pessoa e Prémio Secil de Arquitectura pelo Estádio de Braga) para projectar o edifício que estará pronto no máximo daqui a três anos e tem um valor estimado de 5,3 milhões, segundo o contrato. "É um grande arquitecto, extremamente original, porque cada projecto que ele planeia vê-o de maneira diferente", justificou a pintora. "Vai fazer uma coisa cheia de mistério e surpresa."
Paula Rego quer que esta Casa das Histórias e Desenhos seja um museu "despretensioso, divertido, vivo, cheio de alegria e de muitas maldades". Mas sublinhou, quando lhe perguntaram se pretendia visitar regularmente o museu: "O museu não é para mim, é para os meus quadros. Não faço lap dance, não sou dançarina, o que se vai lá ver não sou, eu mas os meus quadros."
Paula Rego, a mais internacional pintora viva portuguesa, doou 59 desenhos, 34 gravuras e oito litografias suas à autarquia e emprestou ainda 16 quadros seus e quatro do seu primeiro marido, o inglês Victor Willing (1928-1988). As obras, escolhidas pela pintora, abrangem um período de mais de 50 anos de trabalho, "coisas que" tem "guardadas há anos e outras mais recentes". Paula Rego pretende ir trocando as obras emprestadas e deverá doar mais gravuras.
A ideia de mostrar obras de Victor Willing num museu que lhe é dedicado foi da própria pintora: "Era um grande pintor, muito melhor que eu", disse. "Tenho guardados quadros dele que eu achava que, num projecto como o de Souto Moura, ficariam uma maravilha. Vão ter aqui uma surpresa que é um trabalho sublime que existe na Tate, em Londres, e noutros sítios."
Nascida em Lisboa, em 1935, Paula Rego passou a infância no Estoril mas instalou-se definitivamente em Londres há 30 anos e é considerada pelos ingleses como "artista britânica nascida em Portugal". "Sou londrina, o que pode juntar as duas coisas. Sou portuguesa, pinto quadros portugueses em Londres, uma capital muito diversa e cheia de nacionalidades onde se pode ser o que se quer", disse ontem.
Financiado pelo Programa de Investimento e Qualificação de Turismo, o museu terá 750 metros quadrados de área expositiva, bar, livraria e auditório com 200 lugares.
O conceito do edifício partiu do conjunto de árvores que envolvem o local do futuro museu, na Parada, disse há dias, à Lusa, Eduardo Souto Moura. "Serão caixas altas e baixas inseridas no meio das árvores", descreveu, explicando tratar-se de um único edifício formado por vários corpos fragmentados. O arquitecto procurou "fazer das árvores existentes um negativo para contrastar com o edifício que funcionará como positivo", efeito alcançado pela cor e materiais do edifício, em betão cinzento claro, acrescentou. "Não resisti a introduzir duas grandes pirâmides inspiradas numa forma piramidal que o arquitecto Raul Lino usou numa casa em Cascais", contou ainda à Lusa. Essas pirâmides - a livraria e o restaurante - serão "a imagem icónica do projecto".
Com o novo museu, a autarquia quer transformar Cascais "num grande pólo de atracção cultural que tem como eixo fundamental o museu Paula Rego", disse António Capucho, o presidente. O museu vai ficar perto de outros espaços culturais como o Museu Condes de Castro Guimarães, os futuros Museu Municipal de Arqueologia e Casa Sommer (Arquivo Histórico). O nome do director do museu, que terá de ser aprovado pela pintora, ainda não foi escolhido.
Paula Rego teve, em final de 2004, uma exposição importante no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, que foi um dos maiores fenómenos de público dos últimos anos: 157 mil pessoas em três meses.