Investigadores procuram em África pistas sobre a origem dos furacões
Oitenta por cento das grandes tempestades do Atlântico fornam-se
na costa ocidental africana, mas não se sabe como se tornam destruidoras
Vinte e um dias antes do furacão Katrina fazer a sua primeira passagem por Nova Orleães, em Agosto de 2005, uma pequena onda de ar turbulento emergiu da costa ocidental de África e dirigiu-se para o Atlântico. Sobre o oceano, aquela depressão atmosférica começou a enfraquecer bastante, com a ajuda de uma massa de ar seco e poeiras de uma grande tempestade de areia do Sara, que se levantou ao mesmo tempo. Mas algures no Atlântico, juntaram-se uma ou mais depressões vindas de África. Em poucos dias, a turbulência relativamente pequena tornou-se uma tempestade tropical que, assim que cruzou o oceano, se transformou no furacão que iria devastar a costa do Golfo, duas semanas mais tarde.
Apesar de muitos dos furacões que chegaram aos Estados Unidos nascerem como depressões tropicais nas águas de África, pouco se sabe das razões que levam alguns a enfraquecer e outros a tornarem-se furacões monstruosos no outro lado do oceano. Esta é uma pergunta de crescente importância e por isso investigadores da NASA e da Administração Nacional do Oceano e Atmosfera (NOAA, em inglês) vão passar os próximos dois meses ao largo da costa africana para tentar descobrir a resposta.
"Estas ondas são inofensivas linhas de chuva pesada com trovoadas," explicou Jeffrey Halverson, um cientista da NASA e professor da Universidade de Maryland. "Mas aproximadamente dez por cento mudam quando chegam ao mar, ganham rotação e força. É esse o grande mistério: de onde provém a rotação?"
As ondas ocidentaisA partir de Cabo Verde e de Dacar, no Senegal, os investigadores vão identificar, medir e analisar algumas das 60 ondas que todos os anos, no fim do Verão, surgem na África Ocidental e se dirigem às Caraíbas e à América do Norte, transportadas pelas correntes do vento.
Na maior parte das vezes, estes fenómenos meteorológicos estendem-se por cerca de 2000 quilómetros e duram três a quatro dias - a não ser que se transformem em algo maior. O seu poder e instabilidade inicial provêm da diferença de temperaturas entre o ar muito quente do deserto do Sara e o ar substancialmente mais frio da costa do Golfo da Guiné.
A NASA equipou um avião com instrumentos de investigação atmosférica, para estudar as ondas e as depressões tropicais. O fenómeno foi estudado nos anos 70, mas a tecnologia evoluiu muito desde então. Os sensores do avião vão medir o tamanho e o formato das nuvens e das partículas do ar, a velocidade do vento e a sua direcção, a chuva e a temperatura atmosférica, assim como a pressão e a humidade relativa. Os padrões do ar antes e depois das ondas se moverem também serão estudados. Também se vão usar imagens recolhidas por satélites - que podem revelar, por exemplo, a forma como a tempestade se constrói na vertical.
Os investigadores irão concentrar-se na questão que consideram mais intrigante: como é que uma tempestade tropical se transforma num furacão. As previsões que actualmente se fazem captam com rigor a velocidade e direcção da tempestade - mas a sua intensidade continua a ser difícil de prever.
"Comparando com o que sabemos sobre a forma como os furacões se movimentam, estamos 15 ou 20 anos atrasados na compreensão dos factores que contribuem para a intensidade de um furacão," disse Jason Dunion, da NOAA.
Há um entendimento geral sobre o que é preciso para se criar um furacão - uma determinada combinação de humidade na atmosfera, águas quentes à superfície do oceano e ventos. Mas os cientistas querem compreender melhor esta receita, por isso vão ao local onde se formam 80 por cento dos furacões do Atlântico - a costa ocidental africana.
Os cientistas estão muito interessados em compreender como é que pequenos ciclones tropicais se transformam em furacões. "Para se criarem grandes massas de ar em rotação, é preciso que vários pequenos turbilhões se juntem, para agirem como um só. É provável que se agreguem quando estão perto uns dos outros", explicou Jeffrey Halverson.
Os cientistas vão também estudar o papel da camada de ar que se forma sobre o Sara no Verão e se espraia pelo Atlântico. Este ar é muito quente e seco, e pensa-se que os ventos fortes e as partículas de pó inibem o desenvolvimento dos ciclones, dificultando a formação de chuva. Mas este esse factor não é considerado nos modelos computacionais de previsão dos furacões. Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post