Torre com 100 metros na marina de Cascais recebida com apreensão
Uma semana depois de ter sido apresentado, o projecto de 164 milhões de euros para a nova marina de Cascais está longe de reunir consenso. No centro da polémica está o hotel com cem metros de altura e 30 andares revestido a vidro previsto para a zona, que o município anuncia como o novo "farol" do turismo no concelho. Há quem lhe elogie as formas, mas quase todos criticam a falta de ligação da torre à envolvente e os potenciais impactos ambientais negativos que ela trará.
O projecto da nova marina de Cascais, que prevê a construção de uma torre com 100 metros de altura revestida a vidro à entrada do actual porto de recreio, está a ser recebido com alguma apreensão no concelho, e conta já com a oposição do presidente da Liga para a Protecção da Natureza, Eugénio Sequeira, e do arquitecto Michel Toussaint. A marina de Cascais foi inaugurada faz hoje sete anos, numa cerimónia que ficou marcada por críticas de associações ambientalistas - unidas num movimento designado Liga para a Protecção da Baía de Cascais -, protestos partidários e queixas de pescadores locais. Terminava assim, três anos depois do início das obras, um processo que se arrastava desde 1989 e que numa fase inicial contou com a reserva do então Instituto Português do Património Cultural quanto à localização e dimensão da marina.
A MarCascais, o consórcio luso-espanhol a quem foi entregue a construção e a concessão da marina, teve aliás de proceder à alteração do projecto apresentado, depois de a autarquia ter alertado para os inconvenientes que a obra iria provocar com a exploração de pedreiras na zona, com o transporte de materiais pesados pelas ruas da vila, com o impacto da volumetria do molhe na enseada de Santa Marta e com o "enclausuramento" da baía de Cascais. Modificações que não calaram os ambientalistas, receosos de que fossem causados danos irreversíveis na paisagem e no meio ambiente.
Desde a sua inauguração, em Agosto de 1999, a marina de Cascais conheceu um razoável aproveitamento no plano náutico mas revelou-se um fiasco em termos de exploração dos espaços comerciais existentes, o que acabou por levar a MarCascais a encomendar um novo projecto ao atelier de arquitectura Promontório Arquitectos. A nova marina, que está orçada em 164 milhões de euros e cuja conclusão está prevista para 2009, contempla uma extensa área de alojamentos turísticos, a remodelação da área comercial e uma torre de 100 metros revestida a vidro.
O presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), que já em 1999 tinha acusado o equipamento de ter "estragado" a baía de Cascais e de ter "descaracterizado" a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e a Cidadela, diz que o novo projecto "é uma tal enormidade que não merece comentários".
A falta de estacionamento junto ao equipamento, as dificuldades de circulação em Cascais, a volumetria do projecto, o seu efeito sobre a qualidade da água e o aumento dos esgotos a tratar que o mesmo acarretaria são alguns dos aspectos que preocupam Eugénio Sequeira, para quem "o desenho" da torre projectada pelo arquitecto Pedro Appleton "é bonito" mas não se adequa ao local.
"Cosmética de um péssimo projecto"Numa crítica partilhada pelo presidente da LPN, o arquitecto Michel Toussaint destaca as "posições contraditórias" da Câmara Municipal de Cascais, a que preside António Capucho: "No caso do Hotel Estoril-Sol, propõe-se ser deitado abaixo porque tem um grande impacto na paisagem. No caso da marina, o argumento principal para elogiar o projecto é precisamente o impacto que terá na paisagem", diz, questionando "como é que a câmara pensa gerir aquela paisagem".
Michel Toussaint classifica a nova marina como "uma espécie de cosmética de um péssimo projecto", considerando que "o projecto inicial foi um grave atentado às qualidades paisagísticas do sítio". "O que se previa de um projecto contemporâneo de arquitectura seria procurar minimizar o impacte negativo do que está feito neste momento e isso foi totalmente esquecido", conclui o arquitecto.
Rómulo Machado, que pertence ao Grupo Ecológico de Cascais (GEC) e à organização MovCascais, considera que a torre com um hotel de 30 andares "não tem nada a ver com a construção que há naquela zona", pelo que "está completamente desenquadrada". Rómulo Machado admite a necessidade de "dar a volta à marina para revitalizar o local", mas acredita que isso tem de ser feito através de uma construção "não agressiva", que "deve ser enquadrada na paisagem e não impor-se a ela".
"Não quero uma Cannes em Cascais", diz por sua vez Paula Mascarenhas, que preside ao GEC, questionando a viabilidade económica do projecto, o seu impacte ambiental e efeitos sobre os ventos e as vistas, mas também a relação que se estabelecerá com o vizinho património classificado como imóvel de interesse público, que inclui a cidadela de Cascas, a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e a Torre Fortificada de Cascais.
Também preocupado está o deputado municipal eleito pelo PSD João Estarreja, que sublinha, no entanto, "a bondade do projecto, pensado como contributo para a estratégia turística de Cascais".
"Gosto da torre em termos arquitectónicos", diz o independente - que se absteve na votação do plano de pormenor do Estoril-Sol por estar "preocupado com a volumetria" dos edifícios projectados por Gonçalo Byrne -, manifestando ainda assim dúvidas quanto a aspectos do projecto da nova marina como a localização, a utilização, a volumetria, os custos, o impacte ambiental e os efeitos sobre o trânsito na localidade.