Mísseis do Hezbollah aproximam-se de Telavive
Milícia xiita atinge Hadera,
a 30 quilómetros da maior cidade
de Israel. No Sul do Líbano, dezenas de pessoas permaneciam soterradas
Um dia depois de o seu líder, Hassan Nasrallah, ter ameaçado atingir Telavive se o centro de Beirute fosse bombardeado, o Hezbollah disparou ontem mísseis de longo alcance contra Hadera, a 30 quilómetros da maior cidade do Estado judaico. Foi o ataque mais longe da fronteira com o Líbano. Não causou vítimas, mas os mais de 200 rockets que a milícia xiita lançou durante o dia contra outras localidade no Norte de Israel mataram três pessoas.No Líbano, o bombardeamento pela aviação israelita da principal estrada costeira que liga o Norte do país à Síria cortou ontem o "cordão umbilical" da entrada de ajuda ao país. A intensificação da campanha aérea provocou pelo menos 45 mortos civis, 33 dos quais agricultores, incluindo 17 sírios curdos, numa quinta situada na área de fronteira do Líbano com a Síria.
Segundo responsáveis nos dois hospitais sírios para onde foram levados os mortos e os feridos do ataque mais mortífero do dia, quatro mísseis destruíram o armazém em que os agricultores trabalhavam, carregando frutas e legumes. Cerca de 20 trabalhadores terão ficado feridos. Mais estariam provavelmente debaixo dos escombros, afirmou Ali Yaghi, um responsável da protecção civil libanesa, citado pelo diário israelita Ha"aretz.
Testemunhas descrevem que o ataque aconteceu quando cinco camiões-frigoríficos sírios chegavam para carregar pêssegos e maçãs. Perto de 150 pessoas estariam no local.
O Exército israelita emitiu um comunicado explicando ter atacado "duas estruturas no Vale de Bekaa, sob suspeita de que armas estavam a ser transportadas para lá". O ataque aconteceu perto da cidade de Qaa, a 10 quilómetros de Hermel, bastião do Hezbollah que já foi atingido pelo menos três vezes.
Os intensos bombardeamentos de ontem fizeram ainda sete mortos civis e dez feridos num raide contra Taibeh, na parte central da zona de fronteira entre o Líbano e Israel, onde combates opõem o Hezbollah ao exército israelita.
Taibeh terá sido alvo de pelo menos mais um bombardeamento que destruiu uma casa onde 17 pessoas se tinham refugiado, segundo noticiou à noite a agência de notícias oficial libanesa. Em simultâneo, responsáveis de segurança libaneses deram conta de um ataque contra um edifício em Aita al-Shaab, dois quilómetros dentro do Líbano, onde um número indeterminado de civis teria procurado refúgio. Um responsável libanês citado pela Associated Press disse que cerca de 50 pessoas poderiam estar enterradas nos escombros. A Cruz Vermelha libanesa ainda não tinha conseguido lá chegar.
Cinco civis foram também mortos em raides a norte de Beirute, enquanto um soldado libanês morreu a sul da capital. Dos pontos alvejados em vias rodoviárias, todas essenciais ao tráfego com a Síria, dois foram destruídos numa zona cristã na estrada litoral que liga Beirute ao Norte do Líbano. "Beirute arrisca-se a ficar completamente isolada", descreveu o enviado do diário francês Libération.
As Nações Unidas dizem que foi cortado o "cordão umbilical" da ajuda humanitária ao país. "A estrada desapareceu toda", afirmou à Reuters Astrid van Genderen Stort, responsável da agência da ONU para os refugiados, referindo-se a uma via a norte da capital. Oito camiões com 150 toneladas de ajuda foram impedidos de chegar ao país.
A resposta do Hezbollah ao ataque da manhã em Qaa chegou à noite: mísseis Khaibar 1, dois ou três, segundo o Jerusalem Post, atingiram Hadera, o ponto mais a sul a que os projécteis do grupo já chegaram, a 90 quilómetros da fronteira e a apenas 30 de Telavive.
Segundo a polícia israelita, o Hezbollah voltou a passar a barreira dos 200 rockets. Três civis foram mortos: uma mulher na vila árabe de Mughar; dois homens em Majdel Krum e Dir el-Assad. De acordo com a estação de televisão Al-Jazira, o Hezbollah anunciou ter também bombardeado o quartel-general da Força Aérea israelita do Norte. O Exército não confirmou nem desmentiu.
No terreno, os combates são descritos como ferozes por observadores da ONU - Israel diz ter morto sete combatentes do Hezbollah e confirmou ter perdido três soldados da brigada de elite Golani. Já perdeu 44 militares desde o início da ofensiva a 12 de Julho, em resposta à captura por parte do Hezbollah de dois soldados.
Ouvido pela correspondente da BBC em Beirute, Timor Goksel, antigo conselheiro político da missão da ONU no Sul do Líbano, estima que a verdadeira força do Partido de Deus ainda não foi posta em campo. "O que vemos agora é o que eles chamam "reservas das aldeias", o que é muito interessante. O Hezbollah ainda não empenhou as suas tropas", afirma, antecipando que "quando os israelitas avançarem mais [no terreno] é que vão ver combates a sério".
O Exército israelita afirmou ontem controlar entre três e oito quilómetros dentro do Líbano, enquanto continua a ser preparada uma nova fase, que levará as tropas até junto do rio Litani e delimitará uma "zona de segurança".