Um enclave entre os dois Congos
Cabinda, a mais setentrional das províncias de Angola, é um enclave de 7300 quilómetros quadrados situado entre os dois Congos, o de Brazzaville e o de Kinshasa, resultantes, respectivamente, da colonização francesa e da belga. A sua situação remota, em relação aos demais territórios angolanos, é sentida em todas as esferas. Há 300 anos existiam ali os reinos tradicionais de N"Goyo, Kacongo e Loango, com cujos representantes Portugal viria a assinar entre 1883 e 1885 os tratados de Chinfuma, Chicamba e Simulambuco, sendo essencialmente este aquele em que os independentistas se baseiam para dizer que Cabinda é uma entidade autónoma em relação a Angola.
Foi na década de 1960, por altura das grandes descolonizações africanas, incluindo a do Gabão e a dos Congos, que se criou a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC). Devido à guerrilha independentista que se travou desde meados dos anos 1960 na região a norte do rio Chiloango, nomeadamente na floresta do Maiombe, muita gente fugiu para os Congos, não deixando em Cabinda mais de 300.000 habitantes.
O petróleo tornava-se entretanto a grande riqueza do território, superando os outros recursos do mesmo: madeira, fosfato, urânio, ouro e potássio. O primeiro líder da FLEC foi Luís Ranque Franque, actualmente exilado no Canadá, e a ele sucedeu em 1975 Henriques N"Zita Tiago, que mais tarde se retiraria para a França, onde ainda hoje vive.
Depois de uma série de dissensões nas fileiras autonomistas, havia há dois anos a FLEC/Forças Armadas de Cabinda, de N"Zita Tiago, e a FLEC Renovada, de António Bento Bembe, que depois passaram por uma fase de unificação, sem consistência. N"Zita Tiago ficou como presidente e Bento Bembe como secretário-geral da FLEC, para além de haver sido encarregado de coordenar o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), que à Frente de Libertação juntaria a associação cívica Mpalabanda e representantes das igrejas, designadamente da católica.
O objectivo do Fórum seria negociar com o Governo; mas depois o presidente da FLEC e outras individualidades queixaram-se de que Bembe extrapolara das suas funções, concluindo um entendimento com Luanda sem dar conta aos seus pares do que se estava a passar. J.H.