NABIH BERRI Uma peça central no puzzle libanês

Líder do movimento xiita Amal, um dos principais aliados da Síria no Líbano, o presidente do Parlamento de Beirute poderá ser uma peça central para ajudar a resolver o actual conflito com Israel. Por Maria João Guimarães

O líder do movimento xiita libanês Amal (Esperança, em árabe) é a figura política para quem se voltam atenções na guerra em curso. "[Nabih] Berri vai ter um papel essencial nas próximas semanas", previu o diário Daily Star, de Beirute. "O verdadeiro poder político no país parece estar nas mãos de Nabih Berri", escreveu o jornal israelita Ha"aretz. E no International Herald Tribune, um antigo conselheiro do Ministério da Defesa de Israel admitiu que "os xiitas moderados podem ser a solução".Berri é há 14 anos presidente do Parlamento libanês, o mais alto cargo a que um xiita pode ascender segundo a rígida divisão prevista pela Constituição nacional. É considerado um dos principais aliados da Síria em Beirute - é aliás graças a uma "engenharia eleitoral" de Damasco, quando ainda influenciava o país vizinho, que o Hezbollah não tem mais deputados do que o Amal.
O Hezbollah, a organização que o Irão criou após a invasão israelita do Líbano em 1982 e desde então disputa com o Amal o controlo da comunidade xiita, designou Berri "mediador" da questão dos soldados reféns. A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, também se encontrou com Berri quando recentemente esteve em Beirute, o que foi lido, pelo Daily Star, como um reconhecimento de que qualquer acordo terá de passar por ele. "A maioria parlamentar, hesitante em fazer algum pedido a [Hassan] Nasrallah [o líder do Hezbollah] sem um parceiro xiita, olha fixamente para Berri", acrescentou o jornal.
Advogado de profissão, nascido na Serra Leoa mas a viver no Líbano desde criança, Berri teve várias posições de destaque no Amal desde os anos 1970, e assumiu a sua liderança em 1980. A sua postura é muito diferente da do xeque Nasrallah. Enquanto o Hezbollah gostaria de transformar o Líbano num Estado islâmico, o Amal quer um Estado em que coexistam as suas 17 confissões religiosas embora com mais direitos para os xiitas, até agora uma espécie de subclasse do Líbano.

Uma história sinuosa e violentaDurante a guerra civil (1975-1990), o Amal agiu, consoante os interesses de Damasco, ora como aliado ora como inimigo dos guerrilheiros palestinianos - foi a OLP, de Yasser Arafat, que deu o nome ao movimento e que ajudou a treinar os seus milicianos no Sul do Líbano. De 1985 até à eclosão da primeira Intifada, em 1987, nos territórios ocupados da Cisjordânia e Faixa de Gaza, o Amal travou uma sangrenta "guerra dos campos", para impedir o regresso de Arafat e dos seus fedayin ao Líbano. Os campos de refugiados palestinianos foram bombardeados dia e noite com armas pesadas fornecidas pelos sírios. Quase 4 mil pessoas terão morrido durante o cerco da milícia de Berri.
O Amal lutou também contra o Hezbollah pelo controlo de Beirute, num confronto em que o Partido de Deus, pró-iraniano, saiu vitorioso. Berri passou nove meses exilado em Damasco após a derrota.
Um exílio que não esquecerá agora, diz o Ha"aretz, enquanto pesa para que lado fará pender o fiel da balança - se continuar aliado do Hezbollah a defender apenas um cessar-fogo e a libertação dos prisioneiros em Israel como fez até agora, ou se passará a apoiar um acordo mais alargado que inclua negociações com Israel sobre as Shebaa Farms e o desarmamento do grupo de Nasrallah.
O Daily Star afirma que o Hezbollah poderá "ver os parceiros internos a ter a palavra final sobre as suas acções". O conflito arrasta-se e afecta principalmente os xiitas, o que abala o seu poder enquanto comunidade. "Isso poderá levar os camaradas xiitas - nomeadamente o presidente do Parlamento, Nabih Berri - a questionar a sensatez de mais obstinação", continua o Daily Star.
O Ha"aretz diz que, para Berri, não é claro qual será a posição da Síria neste mapa político: decidir cortar com o Irão e juntar-se a uma política regional conduzida pelos Estados Unidos ou continuar a política a que Berri já está habituado? Irá Berri apoiar um pedido de desarmamento do Hezbollah - a única milícia que a Síria não dissolveu após o fim da guerra civil e que aumentou a sua popularidade quando forçou a retirada israelita do Líbano em 2000?
Ainda é prematuro para Berri arriscar a relação com Nasrallah, e com o seu próprio eleitorado, observou Michael Young no Daily Star. "Se ele saltar do barco, não será antes de mais semanas de confrontos. De um modo mais cínico, Berri poderá estar à espera que o Hezbollah perca terreno em termos militares antes de arriscar uma acção".
No International Herald Tribune, Clinton Bailey, antigo conselheiro do Ministério da Defesa de Israel, advoga um apoio ocidental ao Amal. Apesar de reconhecer que "os americanos podem questionar se Nabih Berri é uma boa escolha para limitar o Hezbollah, em particular porque ele é conhecido no Líbano por ser um apoiante da Síria", Bailey sublinha: "Quando a Amércia ignorou o Amal nos anos 1980, saiu-lhe o Hezbollah. Ignorando-o agora de novo, irá sair-lhe de novo o Hezbollah".

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