Centenário de Rómulo de Carvalho vai ser comemorado com publicação de memórias inéditas
Data de nascimento
do autor do poema Pedra Filosofal já é Dia da Cultura Científica
O primeiro capítulo chama-se Nasci, o último Adeus. Através das suas Memórias inéditas, Rómulo de Carvalho atravessa quase todo o século XX, desde que nasceu, em 1906, até morrer, em 1997, ao longo de 1110 páginas manuscritas. Estas Memórias vão agora ser publicadas para comemorar, a 24 de Novembro, os 100 anos do nascimento de Rómulo de Carvalho, professor, pedagogo, historiador e divulgador da ciência e poeta, através do pseudónimo António Gedeão."Estas páginas constituem um repositório de uma experiência de vida pessoal e profissional em vários campos. É um relato muito saboroso da nossa sociedade, desde o princípio do século", contou ontem o filho, o físico Frederico Carvalho, um dos membros da comissão organizadora das comemorações do centenário do nascimento de Rómulo de Carvalho, durante a apresentação das iniciativas.
"A primeira secção, Nasci, não relata o nascimento, mas o ambiente em que se deu. Foi na monarquia, dois anos antes do regicídio", dizia o filho. Nasceu em Lisboa e escreveu as Memórias quase até ao fim da vida. "A última página foi escrita duas semanas antes de falecer. Tem um espaço em branco para pôr a data do falecimento."
Mas a publicação das Memórias é só um dos muitos eventos previstos. Por exemplo, a Fundação Calouste Gulbenkian reeditará o esgotadíssimo livro As Origens de Portugal - História Contada a Uma Criança. No entanto, terá uma novidade em relação às três edições anteriores: um texto inédito, Crónica de Afonso II, descoberto em 2000 no espólio de Rómulo de Carvalho, entregue à Biblioteca Nacional (documentação variada, objectos e manuscritos originais dos poemas).
A criança a quem Rómulo de Carvalho conta a história das origens da nacionalidade portuguesa, começando nos lusitanos e árabes até Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, é o próprio filho. "É uma obra para crianças, com ilustrações ingénuas, muito bonitas, feitas pelo autor. E recentemente, encontrou-se um texto sobre o neto de D. Afonso Henriques, Afonso II, o Gordo."
Uma exposição na Biblioteca Nacional, outra iniciativa, será acompanhada pela edição de um catálogo sobre o espólio.
A data de nascimento de Rómulo de Carvalho já é comemorada, porque, em 1996, foi instituída como o Dia Nacional da Cultura Científica pelo ministro da Ciência, Mariano Gago. Mas a comissão quis aproveitar o centenário para "recordar e fazer viver na sociedade portuguesa a herança intelectual de Rómulo de Carvalho e do seu inseparável amigo António Gedeão."
Professor de ciências físico-químicas no ensino secundário, durante 40 anos, Rómulo de Carvalho teve extensa obra como divulgador e historiador da ciência. Centrou-se sobretudo na história da ciência portuguesa no século XVIII, de que são exemplos História da Fundação do Colégio Real dos Nobres (1761-1772), História do Ensino em Portugal desde a Fundação da Nacionalidade até ao Fim do Regime de Salazar-Caetano ou Astronomia em Portugal no Século XVIII.
Como divulgador científico, dedicou aos jovens a História dos Balões, História do Telefone ou História da Radioactividade. Também para eles, entre 1979 e 1985, publicou os Cadernos de Iniciação Científica, para os quais a comissão organizadora procura um jornal que volte a editá-los. Fez manuais escolares e, para promover a cultura científica de todos, escreveu A Física para o Povo, reeditada como A Física no Dia-a-Dia.
Como poeta, ou António Gedeão, publicou o primeiro livro em 1956, Movimento Perpétuo. A primeira compilação da sua obra poética surgiu em 1964, com prefácio de Jorge de Sena, seguindo-se Linhas de Força (1967), Poemas Póstumos (1983), Novos Poemas Póstumos (1990) e Poesia Completa (1990), com ilustrações de Júlio Pomar. Poemas musicados tornaram-no mais conhecido, em particular os que se tornaram símbolos da resistência antifascista, como Pedra Filosofal ou Lágrima de Preta.