Fábrica de Alcatifas da Lousã fecha definitivamente as portas no final do mês
Administração alega falta de rentabilidade para a empresa que já chegou a empregar mais de 250 pessoas e tem actualmente 30 trabalhadores
A Fábrica das Alcatifas da Lousã Carvalhos Lda., que na década de 70 teve grande projecção, vai encerrar no final do mês por "falta de rentabilidade do mercado", disse fonte da administração. "O encerramento do sector produtivo deve-se à falta de perspectivas para o sector têxtil e ao facto de os sócios não estarem interessados em investir num negócio não rentável", explicou o administrador Carlos Carvalho, neto de Manuel Carvalho, grande impulsionador da fábrica criada em 1963.Segundo Carlos Carvalho, "o fecho era uma questão que se perspectivava há muitos anos, devido às tendências de mercado, à queda dos negócios das alcatifas e à concorrência agressiva". A fábrica chega ao fim com 30 trabalhadores, alguns com mais de 40 anos de casa, depois de ter chegado a empregar mais de 250 pessoas, número que foi sendo reduzido ao longo dos últimos anos.
O administrador sublinha que a empresa fecha sem dívidas ao fisco, à Segurança Social, aos operários e aos fornecedores, apesar de ter vindo a acumular centenas de milhares de euros de prejuízo nos últimos anos.
Luís Carvalho, outro dos administradores, garantiu que o edifício, localizado no centro da vila da Lousã, não será colocado à venda e que o sector comercial vai manter-se em funcionamento por algum tempo com "quatro ou cinco funcionários". Segundo António Carvalho Pinheiro, que geriu a empresa antes de 1995, tendo saído incompatibilizado com os dois primos e actuais administradores, a fábrica já devia ter fechado em 2002. "Os dois irmãos que estão como gerentes é que não queriam, porque tinham lá o seu vencimento, e enquanto eles estavam a lucrar todos os outros sócios estavam a perder", disse.
Prejuízos avolumaram-se nos últimos anosOs prejuízos da empresa avolumaram-se nos últimos anos, levando a que os 15 sócios tivessem aprovado por unanimidade o encerramento da unidade fabril, com rescisão de todos os contratos e o pagamento de indemnizações.
O antigo técnico de contas Américo Barreto, que saiu da empresa em 2000, depois de uma ligação de aproximadamente 50 anos, afirmou que a firma a partir daquele ano tornou-se inviável, ao acumular prejuízos na ordem dos 250 mil a 350 mil euros.
Nos finais da década de 1960 e durante os anos 70, a Fábrica das Alcatifas da Lousã atingiu uma dimensão no mercado nacional que nenhuma outra empresa do sector têxtil alcançou nesse período.
Associada à empresa Carvalho Lda. funcionam as firmas Manuel Carvalho Lda. (gestão de imóveis), a Barata & Pinheiro Lda. (produção de fibras) e a Sociedade Têxtil Manuel Carvalho, em São Romão, Seia (fabricava tecidos e cobertores), que encerrou há cerca de um ano.
O ex-chefe de pessoal, Marcolino Simões, que trabalhou na empresa 47 anos (entre 1959 e 2006), recordou que a fábrica das alcatifas chegou a "trabalhar 24 sobre 24 horas e não conseguia dar vazão. A parada do portão chegou a estar cheia de camiões que esperavam horas e horas por carga". Para Marcolino Simões, "o encerramento era inevitável face ao avolumar dos prejuízos", considerando que "só os alicerces monumentais da empresa permitiram chegar a esta data". "Na década de 70 era a fábrica mais implantada no mercado nacional na produção de alcatifas. Podemos dizer que o Algarve foi todo alcatifado pela Lousã, embora o mercado de Lisboa também fosse muito importante", referiu o antigo funcionário. António Ventura, Agência Lusa
Nos últimos tempos, a fábrica Carvalho Lda. voltou às notícias, quando no ano 2000 o sócio Jorge Carvalho, já falecido, prometeu um jipe a cada um dos 170 funcionários, promessa envolta em polémica e que não chegou a concretizar, por divergências familiares que ainda se arrastam em tribunal.A actividade industrial da família Carvalho começou na década de 20 com Manuel Carvalho, avô dos actuais administradores, natural de Coentral (Castanheira de Pêra), onde já havia uma indústria de lanifícios, que descia a serra para vender meias, cobertores e xailes nas feiras de Lousã, Miranda, Poiares e Coimbra, e regressava com sacos de lã comprada aos pastores. Instalou na Lousã, em nome individual, uma unidade de produção de carpetes manuais, meias e peúgas, que mais tarde, em 1963, começou a fabricar alcatifas, dando origem em 1968 à empresa Carvalho Lda., uma sociedade que integrava Manuel Carvalho e os seus filhos.