Hezbollah em "guerra aberta" com israel
Israel tentou assassinar o líder do Hezbollah. O grupo xiita respondeu atacando um navio israelita e declarou "guerra aberta". No terceiro dia da ofensiva israelita morreram oito libaneses. Em Israel, rockets do Hezbollah mataram duas pessoas. Por Maria João Guimarães
Um navio israelita que estava ao largo de Beirute foi ontem atingido, ficando em chamas e, segundo o site do diário hebraico Ha"aretz, com graves danos. A estação de televisão pan-árabe al-Jazira dizia, por seu lado, que quatro soldados israelitas tinham ficado desaparecidos no ataque. Antes da acção, um "navio em chamas" tinha sido descrito pelo chefe do Hezbollah, que Israel tinha tentado assassinar uma hora antes. O exército israelita começou por dizer que o ataque ao navio de guerra tinha sido provocado por rockets e tinha causado "danos ligeiros e nenhumas vítimas". O Ha"aretz noticiava depois que o ataque teria sido feito com um drone (avião não tripulado) carregado de explosivos.
Não era claro se o ataque tinha ocorrido antes ou depois de um discurso transmitido pela rádio do Hezbollah do xeque Hassan Nasrallah, líder do movimento. "Olhem para o navio de guerra que atacou Beirute, que atacou infraestruturas, as casas das pessoas, e civis, olhem para ele a arder perante os vossos olhos", disse Nasrallah, citado pelas agências.
O discurso pretendia provar que o chefe do Hezbollah estava são e salvo após o ataque aéreo israelita à sua casa. Israel tinha ameaçado que poderia atingir os líderes do movimento xiita.
Tinha passado menos de uma hora sobre o raide israelita quando Nasrallah falou. "Querem uma guerra aberta, vão ter uma guerra aberta", declarou, dirigindo-se a Israel. "Esta será uma guerra a todos os níveis", continuou o líder do Hezbollah, citado pelas agências. "Até Haifa e para além, muito para além, de Haifa."
O discurso de Nasrallah foi saudado nas ruas de Beirute com tiros para o ar e buzinadelas de celebração, descreve a Reuters.
Continuavam, entretanto, os ataques de parte a parte. O Hezbollah disparou mais rockets contra Israel que atingiram seis diferentes cidades do Norte de Israel. Num moshav (cooperativa agrícola) do Norte, uma mulher e a neta de cinco anos morreram vítimas de um rocket.
Na véspera, uma das cidades atingidas tinha sido Haifa, a terceira maior do país. A ameaça do Hezbollah atacar a cidade será levada a sério - Haifa tem o maior porto de passageiros de Israel, várias refinarias e instalações industriais importantes, incluindo fábricas de químicos, lembra o Jerusalem Post.
Por outro lado, os ataques aéreos israelitas continuaram a sua campanha de danificar infraestruturas civis - a autoestrada que liga Beirute a Damasco foi ontem alvejada várias vezes pela aviação - e ainda de ataque ao Hezbollah, lançando raides contra a casa do líder do movimento, um gabinete do Hezbollah em Beirute e ainda de uma rádio, que continuou a emitir apesar do ataque. O aeroporto da capital libanesa foi novamente alvo das bombas dos aviões do Estado hebraico.
66 mortos no Líbano, quatro em Israel
No ataque ao subúrbio Sul de Beirute morreram três pessoas; os raides no Sul do Líbano fizeram cinco mortos. Nos três dias da campanha militar israelita morreram 66 pessoas no Líbano, segundo a Reuters, e mais de 200 ficaram feridas. Em Israel, quatro pessoas morreram atingidas pelos rockets que se multiplicaram no Norte. Mais de 150 ficaram feridas.
O primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, prometeu que a campanha militar - que tinha já antes descrito como "prolongada"- vai continuar até que sejam neutralizadas as guerrilhas do Hezbollah.
O Ha"aretz relata ainda que Olmert aprovou ontem "novos alvos" para ataques, que seriam levados a cabo durante a madrugada. "Israel vai tomar os passos que considere necessários para proteger os seus cidadãos em face do continuado lançamento de rockets da fronteira", dizia um responsável do gabinete de Olmert.
A ofensiva israelita no Líbano é a mais forte desde a operação "Vinhas da Ira", de 1996, quando durante 17 dias Israel lançou raides contra posições do Hezbollah. Esta operação aconteceu, no entanto, antes da retirada das tropas israelitas do Líbano (2000).
Líbano não consegue cessar-fogo na ONU
O Líbano recorreu às Nações Unidas, pedindo numa reunião de emergência do Conselho de Segurança que fosse imposto um cessar-fogo entre Israel e o País do Cedro. Mas o CS apenas saudou o envio de uma equipa da ONU que vai tentar "encorajar a contenção".
Nos EUA, o porta-voz da Casa Branca negou que o Presidente, George W. Bush, tivesse apelado a Israel a que suavizasse o ataque sobre o Líbano, como tinha sido afirmado pelo primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora. Apesar de Washington preferir um cessar-fogo na região, o porta-voz afirmou que "o Presidente não vai tomar decisões militares por Israel".
Os Estados Unidos lançaram ontem um aviso aos seus cidadãos que estejam no Líbano para considerarem deixar o país quando as condições o permitirem. O responsável adiantou que até agora nenhum cidadão americano deixou o país, porque não há maneira de sair, depois de Israel ter atacado o aeroporto internacional e bloquear os portos libaneses, deixando como única via de saída a Síria, mas bombardeando entretanto a auto-estrada Beirute-Damasco.
O Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, por sue turno, comentou os acontecimentos. Começou por dizer que Israel não iria atacar o país - "o regime e os seus apoiantes não têm poder para deitar sequer um olhar mau", relatava a agência oficial IRNA. Ahmadinejad prometeu ainda ajudar a Síria, caso o Estado hebraico ataque o país, e referiu-se à ofensiva no Líbano como um ataque contra todas as nações da região.