Cientistas calculam tempo de vida dos dinossauros
Vários esqueletos numa jazida no Canadá serviram de base aos cálculos, que mostram que a infância era a altura menos perigosa para um tiranossauro
Quanto tempo vivia um dinossauro? Pode parecer uma pergunta de resposta fácil, mas não é - razão por que uma equipa de cientistas dos Estados Unidos e do Canadá avançou com um estudo inédito, publicado ontem na revista Science. Por exemplo, um T-rex, o mais famoso dos dinossauros, viveria, com sorte, até aos 28 anos.Grande parte da investigação centrou-se nos muitos esqueletos do Albertosaurus, descobertos numa espécie de cemitério de dinossauros, perto do rio Red Deer, no Parque Provincial de Dinossauros, em Alberta, no Canadá. Os cientistas estudaram ainda outros três tiranossauros, dinossauros carnívoros detentores de respeitosos dentes, da América do Norte (Tyrannosaurus, ou T-rex, Gorgosaurus e Daspletosaurus).
Em 1910, Barnum Brown, do Museu Americano de História Natural, escavou nove esqueletos de Albertosaurus sarcophagus numa única jazida, em Alberta. Devido à importância do local, o paleontólogo canadiano Philip Currie, director do Museu de Paleontologia Tyrrell, em Drumheller, voltou lá em 1997.
Desde então, este conceituado paleontólogo, um dos autores do artigo, liderou todos os anos uma expedição à jazida, de onde já se escavaram, até agora, os ossos de 22 Albertosaurus, com um comprimento entre os dois e os dez metros. Sucumbiram ali num curto período de tempo, ou afogados ou à fome.
Através da observação ao microscópio de ossos das patas e dos pés, para contar os anéis de crescimento, os cientistas estimaram o padrão de sobrevivência dos tiranossauros. E perceberam por que razão os museus têm tão poucos exemplares juvenis nas colecções.
Nos recém-nascidos, as taxas de mortalidade são elevadas, por causa de várias razões, como doença, fome, acidentes ou condições climáticas adversas. Mas essas taxas baixam quando atingem dois anos de idade, refere um comunicado de imprensa da Universidade de Alberta, à qual também pertence Currie.
A mortalidade mantém-se reduzida até aos 13 anos, idade em que o Albertosaurus sarcophagus, por exemplo, chega aos seis metros de comprimento, o que é 60 por cento do tamanho máximo registado para esta espécie. De resto, 70 por cento dos animais que sobrevivem até aos dois anos conseguem viver até aos 13, o que explicará por que se encontram tão poucos ossos de tiranossauros jovens.
"Uma implicação desta descoberta é que a misteriosa raridade de tiranossauros subadultos se deve às suas taxas de mortalidade excepcionalmente baixas", comenta Philip Currie. "Estes animais jovens têm taxas de mortalidade baixas, como os juvenis e os subadultos da maioria dos mamíferos terrestres actuais."
Aos 13 anos, quando atingem a maturidade sexual, começam a passar tempos difíceis e as taxas de mortalidade sobem para os 23 por cento. O estudo dos dinossauros do cemitério também revelou que poucos atingem a idade e o tamanho máximos: apenas dois por cento vivem até lá. Também se explica, assim, por que há tão poucos esqueletos de indivíduos gigantescos.
"Há uma razão para não encontrarmos gigantes entre os gigantes como Sue", acrescenta Gregory Erickson, da Universidade Estadual da Florida, o principal autor do artigo, citado pela revista National Geographic. Sue, uma fêmea de T-rex com 13 metros de comprimento, viveu até aos 28 anos (está exposta no Museu Field, em Chicago, nos EUA).
Já o Daspletosaurus viveria até aos 26 anos, o Gorgosaurus libratus até aos 22 anos e o Albertosaurus também chegaria aos 20 e tal.
Saber quanto tempo vivia é um dinossauro é um velho mistério, dificultado pelo facto de estarem extintos há 65 milhões de anos. Em História dos Dinossauros, um livro feito de perguntas (qual era o mais cruel?, o maior?, amarelos ou verdes?...), Dominique Leglu e Catherine Mallaval respondiam, em 1997, que ser grande não é sinónimo de uma vida longa. Em princípio, quanto mais corpulento é um animal, mais tempo vive, mas a duração de vida nem sempre é proporcional ao tamanho.
Há uma ave marinha de 30 gramas que pode chegar aos 30 anos, lê-se na edição portuguesa (Terramar). "[Em geral], uma ave pequena não ultrapassa os quatro ou cinco anos. E o homem, no meio disto tudo? Dado o seu tamanho, atinge idades canónicas..."
Olhar para os dentes dos dinossauros predadores, para ver os seus anéis de crescimento, poderia ser uma maneira de determinar quanto tempo viviam. Mas eles perdiam continuamente os dentes, dizia o paleontólogo Paul Sereno, da Universidade de Chicago, mencionado no livro. "Não sabemos quanto tempo de vida tinha um dinossauro", dizia Sereno. Agora, a equipa de Currie avança uma resposta. Caso encerrado? É provável que não.