Por duas noites consecutivas (este texto refere-se à segunda), o Jobim Trio levou ao Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa o reportório clássico do mais celebrado dos compositores brasileiros: António (Tom) Carlos Jobim. Fê-lo como prometera, de volta à matriz, com a certeza de que, no caso, a inovação era precisamente não "inovar". Tivemos assim, na voz e no piano de Daniel Jobim (neto de Tom), no violão e voz de Paulo Jobim (filho de Tom, pai de Daniel), na bateria de Paulo Braga (companheiro musical de longa data de Tom) e no contrabaixo convidado de Rodrigo Villa uma recriação tão fiel quanto viva de temas imortais, conhecidos de todos. Saudosismo? De forma alguma. Uma orquestra que relê, de modo fiel, as partituras de Bach ou Mozart não pode ser acusada de saudosista. O Jobim Trio também não. Com a particularidade de trazer o Tom clássico nas veias e no espírito, não apenas nas partituras universais. De fato cinzento e gravata (noutros concertos já usaram roupa mais casual), os músicos começaram a noite com instrumentais, usando Samba de uma nota só como prelúdio a uma série de canções: Água de beber, Desafinado e Só danço samba. Bonita demais, parceria de Tom e Vinicius descoberta o ano passado (e hoje parte da novela Belíssima), foi cantada por Daniel, a quem coube a maioria dos vocais. Depois vieram Wave, Falando de amor, Insensatez, Brigas nunca mais e Outra vez. Daniel, que entretanto se ausentara do palco, volta para uma "parceria" de Tom com Fernando Pessoa: O rio da minha aldeia. Aprendeu-a na véspera e saiu-se bem (a gravação de Tom, também voz e piano, consta do disco Música em Pessoa, 2004). Luíza, A Felicidade, Águas de Março e Chega de Saudade deram por findo o espectáculo, prolongado em dois encores. O primeiro teve Garota de Ipanema, Samba do avião (Paulo disse, a propósito, que "Lisboa dá saudade do Rio como era dantes") e Só tinha que ser com você. O segundo, Ela é carioca.É verdade: ela, a música, é carioca. Esta saudade também. Mas tudo o resto é enorme, universal, e foi resumido de forma exemplar num espectáculo clássico, sedutor e eficaz.