Fica, não fica? Scolari insiste: "nim"
O seleccionador mantém o tabu em relação à sua continuidade ou não à frente da selecção portuguesa. Não esconde que a parte financeira é importante. Do nosso enviado Jorge Miguel Matias, em Estugarda
Cada dia que passa surge mais um episódio da novela sobre a continuação de Luiz Felipe Scolari como seleccionador de Portugal. Depois de, há dias, ter surgido na imprensa que o técnico brasileiro ia assinar por mais dois anos, ontem o diário Record dava como certa a saída de Scolari. A tudo isto, o ainda seleccionador de Portugal diz "nim" - ou seja, nem sim nem não. Mas ontem deixou escapar que o dinheiro é importante.Primeiro começou a brincar, entre sorrisos: "É verdade. No Campeonato do Mundo vai ser o meu último jogo." Depois voltou ao jogo que tem feito desde há já vários dias e que o caracteriza também como técnico - defendeu-se, mas não esqueceu o ataque. Em suma, e utilizando as palavras de Scolari: "Existe a possibilidade de ficar e existe a de sair, também."
Primeiro as confissões. "Já conversámos [Scolari e Gilberto Madaíl, presidente da Federação Portuguesa de Futebol] uma vez, depois da primeira passagem, e outra depois dos oito finalistas. Conversámos e estamos a ver de que forma podemos solucionar um ou outro problema para chegar a um entendimento. Só me faltam algumas definições. Deixem eu jogar esse último jogo, sentar um pouquinho."
Pressionado para ser um pouco mais específico, Scolari pareceu querer dizer que o seu pensamento é permanecer: "Gosto de Portugal, tenho um grupo maravilhoso. Não tenho nenhum motivo para sair. Tenho grandes probabilidades de ficar." E foi ainda mais longe: "Preciso de sol, bermuda, praia e Portugal me dá isso. Melhor só nas Maldivas."
Mas depois veio o dinheiro. E o aspecto financeiro não pode ser descurado, como o próprio Scolari confessou: "Claro que a parte financeira é importante. Ficar? Tudo bem, mas tem que passar no caixa primeiro." Pronto, está descoberta a chave que pode abrir a porta para a continuidade de Scolari. Basta dinheiro. Só que talvez não seja nem isso. "Admito ficar e perder dinheiro, claro. Já perdi. Aliás, não perdi porque ganhei outras coisas em troca."
Será que o problema é a falta de motivação, o perigo de ficar numa selecção onde corre o risco de não ir mais além do que aquilo que já conseguiu (um vice-título europeu e um terceiro ou quarto lugar num Mundial)? Scolari recusa também esta ideia: "Não é por ser vice-campeão do Euro e estar entre os quatro melhores do Mundial que não pensaria em Portugal. A partir de Setembro tem a disputa para o Euro 2008. Se Portugal continuar nesse ritmo, preenche qualquer técnico. Não tenho só a preocupação de trabalhar, mas também de viver bem, estar bem. Hoje, já não preciso tanto da alternativa financeira. Portugal preenche muito a minha vida. Me deixa feliz."
O jogo é mais de sofrimento
Gilberto Madaíl também ficou surpreendido com a notícia que dava conta da decisão de Scolari deixar a selecção. "Não tenho nenhuma indicação de que quer sair. Pelo contrário", começou por afirmar o líder federativo. E reafirmou a intenção da FPF em continuar com o técnico brasileiro à frente da selecção: "A FPF pretende e gostaria muito que Scolari continuasse mais dois anos. Agora, há problemas e detalhes que ainda não foram tratados", e que deverão ser numa reunião que deverá decorrer em Lisboa na quarta-feira.
Sobre a partida de hoje, Scolari deixou transparecer que não é fácil motivar jogadores que não conseguiram o grande objectivo pelo qual competiam: "[O jogo para o terceiro e quarto lugares] Faz sentido no aspecto empresarial. Mas para quem tem um trabalho como técnico esse jogo é mais um sofrimento que um jogo que deixa feliz de participar. É muito difícil a motivação. É difícil não pensar no que perdemos e pensa-se mais no que se perdeu do que no que se pode ganhar. Mas temos que buscar algumas soluções para motivar o grupo."