Kandinsky em destaque pela primeira vez no Reino Unido
Primeira metade da carreira do pintor russo apresentada em Londres numa exposição da Tate Modern
Foi ele quem disse que "a cor é o teclado, o olho é o martelo e a alma é o piano com as suas muitas cordas". Foi também ele quem disse que "a pintura é uma colisão tempestuosa de mundos diferentes que, em combate, estão destinados a modelar e designar o novo mundo". O nome do artista russo Wassily Kandinsky, que revolucionou a pintura na primeira metade do século XX, está, desde a passada quinta-feira, em destaque na galeria de arte Tate Modern em Londres, na exposição Kandinsky: Path to Abstraction.
É a primeira vez no Reino Unido que o artista russo tem direito a uma exposição com tamanho relevo. São 55 quadros e um conjunto de 30 trabalhos em papel que a Tate apresenta até Outubro deste ano.
A mostra tem como curadores Sean Rainbird, da parte da Tate, e Hartwig Fischer, pelo Kunstmuseum de Basileia. Para Rainbird, há duas obras a salientar: Composição VI e Composição VII. Sendo as duas datadas de 1913, momento em que Kandinsky atingiu a "pura abstracção", a sétima de dez composições é considerada a obra mais importante do artista neste período.
Os trabalhos escolhidos para Path to Abstraction focam a primeira metade da carreira de Kandinsky, desde as paisagens bávaras - onde o pintor esteve até ao início da Primeira Guerra Mundial quando se mudou para a Rússia - até à descoberta da espiritualidade, passando pelo seu percurso no país de origem culminando com a chegada à escola alemã de arquitectura Bauhaus, onde veio a dar aulas até ao encerramento da instituição pelos nazis em 1933.
Ou seja, a exposição patente na Tate mostra o caminho do artista russo desde a pintura mais objectiva e expressionista (como se pode verificar nas obras que retratam o castelo de Murnau na Alemanha) até à abstracção (tendo como exemplos claro as suas Composições e Improvisações). Para os organizadores de Path to Abstraction, "Kandinsky sentiu que ele tinha descoberto [na abstracção] uma realidade espiritual que era mais poderosa por não estar ligada ao mundo exterior".
Interesse pela músicaTendo toda a sua vida destacado a importância da sinestesia (um estado que mistura os sentidos e faz com que seja possível relacionar e apreciar sons, cores ou palavras com dois ou mais sentidos) na arte, o pintor e teórico de arte russo sempre integrou uma grande componente musical no seu trabalho. Em 1911 assistiu a um concerto de Arnold Schönberg, do qual saiu fascinado, e sentiu necessidade de se começar a corresponder com o compositor austríaco, que, tal como Kandinsky, se sentia bastante atraído pela ideia de quebrar barreiras entre as artes.
Segundo os responsáveis da exposição, foi a partir desta altura, na segunda década do século XX, que ele "começou a incluir [nos seus quadros] grandes áreas de cor vibrante para estimular emoções associadas à música clássica e a provocar respostas a que o uso ponderado de cores específicas podia levar".
Artista maior do abstraccionismo, rejeitado pela Nova Associação de Munique quando enveredou por caminhos mais espirituais, Wassily Kandinsky escreveu que "o artista não deve ser considerado "abstracto" só por utilizar meios "abstractos"; tal nem sequer significa que ele é um artista".