Gaiteiros de Lisboa Fado e violino no regresso após quatro anos
Grupo apresenta hoje à noite, no Centro Cultural de Belém,
o novo álbum,
Sátiro, que só deverá estar disponível em meados de Julho
"Sátiro: semideus dos pagãos, com pés de bode, que tinha por hábito escarnecer de toda a gente" A definição é do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o termo dá nome ao novo disco (quarto de originais) dos Gaiteiros de Lisboa. A apresentação oficial é hoje à noite em Lisboa, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB). A folia, a diversão desbragada, mais que esperadas, são obrigatórias, na grande encruzilhada entre gaitas e percussões. E fado e violino...Carlos Guerreiro, um dos sete Gaiteiros, considera "redundante" recordar o processo atribulado de Sátiro - edição inicial de 2 mil exemplares no Natal de 2005, patrocinada e dedicada exclusivamente à ANA, agora edição oficial pela Sony/BMG, mas com atrasos: o espectáculo de hoje deveria seguir-se à colocação do CD ontem nos escaparates, mas o mais prudente é apontar para inícios/meados de Julho.
O importante, sim, mais do que o registo que fica em disco, é o concerto, o estar em palco. O do CCB também porque marca o começo da digressão que vai ocupar o Verão e vai definir o alinhamento para os espectáculos estivais. Para já, a certeza de que na hora e meia da actuação de hoje haverá lugar não só para Sátiro, mas para temas dos três anteriores que serão revisitados. Mais do que isso, serão alterados. "Cada vez mais, porque cada vez menos nos lembramos de como eram!" São os (bons) tratos de polé que os temas - no novo CD, quase irmãmente divididos entre instrumentais e cantados - sofrem. Passados alguns anos, eles têm "o direito de se metamorfosear".
Embora permita a definição dos concertos da digressão próxima, este concerto é também "único", porque acolhe três convidados especiais. Dois já surgem em Sátiro - Mafalda Arnauth e Manuel Rocha. O outro, Pedro Carneiro, não, mas Carlos Guerreiro explica porque vão ter "a honra" de o percussionista tocar em Movimento Perpétuo, a homenagem ao desaparecido guitarrista Carlos Paredes. "Em estúdio, o Zé Salgueiro tocava o xilofone, mas com muito corte e cola, e ao vivo isso não pode ser."
Quanto à fadista, Mafalda canta Os Versos que Te Fiz, um "fado sem cordas", apenas acompanhada por flautas de pã, mas Guerreiro avisa: "Não queremos fazer qualquer fusão entre Portugal e a América do Sul". E, por fim, Manuel Rocha, da Brigada Vítor Jara, aparece com o seu violino em Chapa Chilrada e Chamarrita do Pico.
Os Gaiteiros de Lisboa não admitem que a sua música seja formatada ou a sua imaginação coarctada. Esta noite, temos ocasião para escarnecer de quem o admite ou deseja.