Distrital da JS defende acesso à adopção por casais do mesmo sexo
Centenas de pessoas desfilaram em Lisboa e homenagearam Gisberta Salce Júnior com um minuto
de silêncio. CGTP, BE e JS participaram na marcha LGBT contra a homofobia e a discriminação
Os membros da distrital da Juventude Socialista (JS) de Lisboa, que ontem participaram na marcha do Orgulho Gay contra a homofobia e a discriminação, contestam o facto de a direcção da JS ter excluído do anteprojecto de lei para o reconhecimento legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo a possibilidade de estes casais terem acesso à adopção. Defendendo que a JS "devia ter ido mais além", o presidente da distrital, Manuel Portugal Laje, explicou que "é preferível que uma criança tenha dois pais ou duas mães do que ficar à mercê de uma instituição". Neste tema os jovens socialistas da capital divergem da posição já assumida pela cúpula da JS, que justificou a não inclusão da adopção por entender que este é um assunto que não pode ser debatido em simultâneo com o casamento civil. Apesar de lamentar esta decisão, Portugal Laje acredita que o casamento entre pessoas do mesmo sexo poderá vir a ser uma realidade até 2009 (a proposta da JS manter-se-á em discussão até 2007) e assegura que a distrital da Juventude Socialista "tudo fará para que isso seja possível".
À semelhança da cúpula da JS, também o Bloco de Esquerda (BE) não tem ainda uma "posição muito clara" sobre o acesso à adopção, disse ao PÚBLICO a deputada Mariana Aiveca, que ontem à tarde participou na manifestão do movimento LGBT (lésbico, gay, bissexual e transgénero). Contudo, a bloquista entende que "a verdadeira exclusão é existirem crianças mal tratadas".
A adopção foi, aliás, uma das reivindicações inscritas no manifesto "Prioridade à igualdade na lei e na sociedade", lido ontem por representantes das associações subscritoras (ILGA-Portugal, Clube Safo, Não Te Prives e Panteras Rosa), antes do início do desfile que começou no Marquês de Pombal e terminou na Praça da Figueira. "Porque o Estado (também) somos nós, a homofobia não pode também impedir o acesso à parentalidade por casais de pessoas do mesmo sexo - desde a adopção, em que é simplesmente irresponsável excluir à partida potenciais adoptantes com base no critério da orientação sexual." No seguimento desta contestação, os quatro colectivos aproveitaram também para protestar contra a lei da reprodução medicamente assistida, que exclui as mulheres sós e os casais do mesmo sexo. "O Estado português parece não hesitar em discriminar, até no acesso à saúde reprodutiva", frisam.
"Direitos para a frente, transfobia para trás"A discriminação e a homofobia dominaram uma iniciativa que juntou centenas de pessoas (a PSP contou cerca de 400 manifestantes, os organizadores asseguram que estiveram mais). O assassinato de Gisberta Salce Júnior foi recordado em fotografias e t-shirts, onde se podia ler "Gisberta, um nome a não esquecer" e "Um rosto a não esquecer". Na Praça dos Restaurantes, os participantes fizeram um minuto de silêncio pela transexual assassinada no Porto.
O mote dado ao cortejo, que começou às 15h00, também transpareceu nas faixas exibidas - "Contra as discriminações nos locais de trabalho e na sociedade. Pela diversidade!" (da CGTP), "Contra a homofobia" (JS), "ATTAC"a a homofobia" (ATTAC) - e em toques mais humorísticos, como o desfile do "cabeçudo" João César das Neves.
A meio da Avenida da Liberdade e no Rossio (aqui com mais intensidade), os apitos deram lugar a palavras de ordem: "Igualdade na lei e na sociedade", "LGBT, liberdade sexual" (com a mesma melodia do slogan da CGTP), "queremos direitos, já!" ou "direitos para a frente, transfobia para trás".
Para além dos quatro colectivos envolvidos na realização da marcha, que abriu com a gigantesca bandeira arco-íris do movimento LGBT, participaram também no evento a Marcha Mundial das Mulheres, a Amnistia Internacional, o Bloco de Esquerda, a JS, a CGTP e a Rede Ex-aequo. O desfile terminou na Praça da Figueira, já depois das 17h00, mas a animação prolongou-se até às 02h00 com o Arraial Pride.
No próximo dia 8 é a vez do Porto receber o seu primeiro desfile LGBT, numa acção organizada pelas Panteras Rosa, Clube Safo, UMAR e ATTAC. A marcha começa às 15h00, no Campo 24 de Agosto, e às 18h00 será lido um manifesto na Praça D. João I.
Já no próximo dia 28 será exibido, no Espaço Karnart, em Lisboa, o documentário Gisberta - Liberdade, da autoria de Jó Bernardo e Jo Schedlbauer. Após a projecção será realizado um debate.