Gorki foi assassinado?
A morte do escritor russo Máximo Gorki, há 70 anos, continua rodeada de mistério: talvez nunca se venha a saber se morreu naturalmente ou se foi assassinado por ordem do ditador comunista José Estaline.Gorki nasceu e foi baptizado como Alexei Mikasimovitch Pechokov e nasceu na cidade de Nijni Novgorod em 1868. Órfão ainda criança, foi obrigado a abandonar a escola e a trabalhar para não passar fome.
Autodidata, aderiu a grupos revolucionários clandestinos. Em 1887, pobre e desperado com um amor não correspondido, tentou suicidar-se com um tiro. E quando mais tarde publicou o primeiro conto, Makar Tchudra (1892), fê-lo sob o pseudónimo Gorki - que significa "azedo". Seis anos mais tarde tornou-se famoso com a publicação de Ensaios e Contos (1898).
Em 1902, Gorki foi eleito membro honorário da Academia das Ciências, título que lhe foi imediatamente retirado pelo czar Nicolau II, que via nele um perigoso revolucionário. Nos anos seguintes, Gorki publicou peças de teatro que o colocam entre os grandes dramaturgos do início do século XX: Pequeno-burgueses, Albergue Nocturno, Filhos do Sol e Bárbaros.
Perseguido por motivos políticos, o escritor emigrou para o estrangeiro, onde escreveu o romance Mãe, que alguns consideram o alvor do "realismo socialista", bem como A Confissão, Os Vagabundos, As Três Vidas, Contos de Itália, Tomas Gordeiev. E acabou por ficar a viver em Itália para tratar da tuberculose que o afectou durante quase toda a vida.
Em 1913, foi amnistiado e pôde regressar à Rússia, onde se envolveu novamente numa intensa actividade política, jornalística e literária. É no jornal Novaia Jizn (Vida Nova) que Gorki apela aos bolcheviques para que adiem a revolução comunista, mas em vão. Forte crítico dos novos poderes, abandona a URSS e volta para Itália.
Mas por causa de uma forte insistência de Estaline, da falta de dinheiro e da vontade de ter atenção no seu país, o escritor regressou definitivamente à URSS em 1933, onde foi apoteoticamente recebido.
Rodeado de privilégios, transformou-se num instrumento de Estaline de branqueamento da imagem comunista a nível internacional. Foi nesta altura que visitou o primeiro campo de concentração soviético nas ilhas Solovetski e as obras de construção do canal Belomor, onde trabalhavam milhares de "contra-revolucionários". Gorki viu esses lugares como "centros de reabilitação de vanguarda".
A 18 de Junho de 1936, Gorki morreu nos arredores de Moscovo, na mesma casa onde morrera 12 anos antes Lénine. O corpo foi sepultado na Praça Vermelha junto do mausoléu do dirigente comunista. Os médicos concluíram então que morrera por causa de uma pneumonia.
Mais tarde, porém, a justiça estalinista acusou "agentes de Leão Trotski e fascistas" de o terem envenenado. Foram acusados Genrikh Iagoda, chefe da polícia secreta soviética, Vladimir Kriutchov, secretário de Gorki e agente da polícia, e vários médicos do Kremlin. Esta foi uma das acusações mais graves no julgamento do "bloco de direita trotskista e anti-soviético", que levou ao fusilamento de todos os réus. Se foi um assassinato, a ideia é que poderia ter sido planeado por Estaline e a liquidação dos executores servira apenas para não deixar rastos.
Ainda durante a vida do escritor, não havia na União Soviética cidade ou vila que não tivesse uma Rua Gorki. O seu nome foi dado à sua cidade natal (Nijni-Novgorod). Hoje, porém, Gorki voltou a chamar-se Nijni-Novgorod e muitas ruas Gorki, como a principal artéria de Moscovo, voltaram a recuperar os seus nomes anteriores. José Milhazes, Moscovo