Amigos e Museu do Fado recordam Berta Cardoso
Falecida aos 85 anos, em 1997, a artista é a primeira homenageada de um ciclo intitulado "Memórias do Fado"
A fadista Berta Cardoso, qualificada pela imprensa da década de 1930 como "a loucura dos fadistas", é hoje recordada pelos Amigos do Fado. Quinta-feira será inaugurada uma exposição sobre a sua carreira no Museu do Fado. Ofélia Pereira, editora do site sobre a fadista - www.bertacardoso.com - disse à Lusa ser "um justo tributo" a uma das principais fadistas do século XX. "Na cidade de Lisboa não há uma rua com o seu nome, e este é um tributo da casa de todos os fadistas", disse.
Berta Cardoso, falecida em 1997, começou a cantar aos 16 anos e logo nos anos 1930 alcança assinaláveis êxitos no teatro de revista, tanto em Portugal como no Brasil. O diário carioca A Tarde anuncia-a, em 1939, como "a famosa fadista que tem lágrimas na voz". A imprensa portuguesa da época não poupa elogios à criadora de "Tia Macheta", qualificando-a como "voz de cristal", "maga da canção nacional" e "a mais bela voz do fado".
O investigador Vítor Duarte Marceneiro, que apresentará hoje, num encontro da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), em Lisboa, o primeiro diaporama sobre a fadista, afirmou que Berta Cardoso "teve uma carreira grande que podia ter sido maior, mas que a sacrificou em prol da família", tendo-se tornado muito requisitada pelas casa de fado de Lisboa. "Recusou por exemplo, um contrato para cantar nos Estados Unidos, para não estar longe da família", disse. Todavia Berta Cardoso actuou no Brasil, Angola e até em Espanha. "Era uma fadista tradicional, nunca cantou outra coisa que não fosse fado, e para o seu meio artístico era muito culta", sublinhou Ofélia Pereira.
Carlos do Carmo disse à Lusa que a memória que guarda da fadista é "sentada num canto" sempre a ler livros. "A Berta Cardoso devorava livros, e tinha muito cuidado na forma de pronunciar as palavras, e dar-lhes a intencionalidade", acrescentou.
A exposição patente até Outubro no Museu do Fado, no bairro lisboeta de Alfama, é constituída por fotografias, discos, cartazes, jornais, letras do seu repertório e até alguns objectos de uso pessoal como brincos.
Além de "Tia Macheta", Berta Cardoso tornou-se célebre pela interpretação de "A Cruz de Guerra", "Fado Faia", "Feitiço", "Fado dos marinheiros", "Fado da azenha", "Rosa enjeitada", "Belos tempos" ou "Cinta vermelha". "Foi uma fadista característica de Lisboa, única na sua forma interpretativa e que teve sempre fãs que corriam para a ouvir", disse o poeta José Luís Gordo.
A última casa típica onde Berta Cardoso cantou e a cujo elenco pertencia foi "O Poeta", uma casa de Lisboa entretanto desaparecida, disse Ofélia Pereira.
Em 1943 o jornal Canção do Sul anunciou que a artista ia deixar de cantar pois tinha terminado o curso de enfermeira-parteira e ia dedicar-se a essa profissão, o que nunca aconteceu. Berta Cardoso só deixaria de cantar definitivamente em 1982.
A APAF inaugura com Berta Cardoso um ciclo denominado "Memórias de Fado" onde se procurará através de meios multimédia e pelo canto "evocar nomes incontornáveis da canção de Lisboa desde fadistas a poetas, letristas ou músicos".
Berta Cardoso nasceu em Lisboa a 21 de Outubro de 1911, vindo a falecer no Barreiro a 12 de Julho de 1997.