Aventura animada com final feliz
Regina Pessoa venceu o grande prémio da curta-metragem do festival de animação de Annecy com História Trágica com Final Feliz
"Foi uma surpresa. Quando ouvi o meu nome, nem queria acreditar". Regina Pessoa (n. 1969) viveu o momento mais alto da sua ainda curta carreira artística no sábado à noite, na cidade francesa de Annecy, ao ver-se inesperadamente distinguida com o Grande Prémio do mais importante festival de cinema de animação do mundo - considerado "Cannes da Animação" - pela sua curta-metragem História Trágica com Final Feliz (2005).No momento em que o júri da 30ª edição do festival - presidido pelo realizador holandês Paul Driesen - anunciou o Cristal d"Annecy para o seu filme, em reconhecimento ao "seu estilo gráfico único", Regina Pessoa estava já feliz pela anterior atribuição do Prémio TPS Cineculte, por uma televisão de cabo francesa. Não que a realizadora não acalentasse alguma esperança de subir ao lugar mais alto do palco, que momentos antes tinha distinguido o realizador norte-americano Tim Burton (A Noiva Cadáver) pelo conjunto da sua obra.
"Depois da exibição do meu filme, as pessoas passavam por mim e diziam: "Adorei - só pode ser esse o Grande Prémio". Mas depois eu passava pelo júri e eles mostravam-se muito sérios. Decerto não gostaram do filme", pensava eu", confessa Regina Pessoa, que faz questão de estender o prémio "a toda a animação portuguesa", que ela representou este ano no festival.
O prémio agora atribuído em Annecy vem fechar um ciclo de atenção que o festival francês prestou a este segundo projecto pessoal da realizadora de A Noite (1999). Foi aí que Regina Pessoa viu, em 2001, começarem a ser criadas as condições para a concretização de História Trágica com Final Feliz, com a atribuição de três prémios ao projecto: pela CST (Comission Superieur Téchnique), pela SACD (Societé des Auteurs et Compositeurs Dramatiques) e pelo canal televisivo Arte.
O chumbo do ICAM"Sem estes apoios externos, nunca teria conseguido fazer o meu filme", realça a realizadora, lembrando que o projecto de História Trágica com Final Feliz, à imagem do que tinha acontecido com A Noite, foi inicialmente chumbado pelo Instituto de Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM). Mas a visibilidade que então conseguiu em França abriu-lhe as portas do estúdio Follimage (de Valence) e do National Film Board do Canadá, que com a portuense Ciclope (de Abi Feijó) coproduziram o filme.
A história está agora a repetir-se com o novo projecto de Regina Pessoa, Kali, o Pequeno Vampiro, que já foi também ignorado num primeiro concurso ao ICAM. "Com o prémio de Annecy, espero que seja mais fácil começar o novo filme", acredita a realizadora.
Com Kali, o Pequeno Vampiro, Regina Pessoa quer, de certo modo, fazer "um epílogo", fechar uma trilogia em que aborda "o tema do medo e da diferença". E propõe-se também dar agora "o salto para as novas tecnologias", associando-as à sua forma muito pessoal de trabalhar a animação tradicional e a técnica da gravura.