Tartarugas-bobas adultas voltam a ter comportamentos de juvenis
Estudo altera a compreensão da vida desta espécie, que nidifica em ambos os lados
do Atlântico e muda de dieta com a idade, alimentando-se junto à costa ou no mar alto
Os adultos reprodutores de tartaruga-boba (Caretta caretta) que nidificam em Cabo Verde não se alimentam todos em zonas costeiras como se pensava: vão para o mar alto comer. Este comportamento, equivalente ao dos juvenis, foi descoberto por uma equipa liderada por Lucy Hawkes, da Universidade de Exeter , no Reino Unido. Esta descoberta revoluciona a compreensão que se tinha da história da vida das tartarugas e indica que, para as proteger, é necessário regular tanto a pesca costeira como a oceânica.A jornada destes animais, que vivem até aos 30 anos, é uma das maiores do reino animal. Os adultos reprodutores põem os ovos nas praias. As tartaruguinhas nascem e vão para o mar e ficam no mar alto, em zonas oceânicas, alimentando-se de organismos que vivem na coluna de água, como as alforrecas e outros pequenos peixes (daí o problema dos plásticos no mar, pois estes animais confundem sacos de plástico com alforrecas, enchem o estômago com eles e acabam por morrer à fome).
Quando estão quase a tornar-se adultos reprodutores, vêm para junto das costas, onde nidificam, e é ai que vivem e se alimentam, principalmente de organismos que vivem junto ao fundo, como caranguejos e camarões.
Estes investigadores relatam, no último número da revista científica Current Biology, como colocaram aparelhos na carapaça de dez tartarugas, para enviar sinais para um satélite em órbita de cada vez que a tartaruga vinha à superfície respirar. Esse transmissor transmitiu também a posição, a profundidade e duração dos mergulhos de cada tartaruga.
Da carapaça para o satélite e daí para o PC
Esses dados foram enviados por correio electrónico para o computador do investigador que colocou o aparelho. Pode-se assim saber as rotas de migração das tartarugas. Esta técnica tem sido utilizada por vários cientistas que estudam as tartarugas, incluindo portugueses (ver caixas).
De acordo com Michael Coyne, da Duke University (EUA), ao seguir estas tartarugas, pode-se determinar quanto tempo passam em cada país. Esta investigação realça como é complicada a migração dos vertebrados e quão sofisticados os esforços de conservação têm de ser para os salvaguardar.
Usando os dados recolhidos desta forma, os investigadores verificaram que alguns adultos ficavam junto à costa de Cabo Verde, enquanto outros, geralmente os mais pequenos, rumavam para o mar alto ao longo da costade África. Brendan Godley, da Universidade de Exeter, explica que Cabo Verde é um dos sítios onde estas tartarugas mais nidificam. Ao mesmo tempo, as águas oceânicas são um ponto quente da pescaria industrial. Esta descoberta implica que haja um maior numero de indivíduos reprodutores nas águas oceânicas vulneráveis ao esforço de pesca de palangre (aparelho com linhas de pesca e anzóis) intensivo que ocorre na região.
A tartaruga-boba que aparece na Madeira e nos Açores é essencialmente da população que nidifica na Florida e não em Cabo Verde. As universidades da Madeira e dos Açores têm desenvolvido projectos com esta espécie, que passa a sua fase juvenil nas águas açorianas e madeirenses.