Café Progresso, o Porto no seu melhor

O Progresso é exemplo vivo de uma estratégia bem sucedida para combater a obsolescência comercial da Baixa do Porto. O segredo: conjugar memórias, histórias, vivências e ambientes retintamente tripeiros, de bairro, com pinceladas vigorosas de modernidade e cosmopolitismo. Por Carlos Romero (texto) e Paulo Pimenta (foto)

Não é caso único, felizmente, mas não há muitos cafés no Porto como o Progresso. Na esquina da Rua do Actor João Guedes, artéria que liga o pequeno e decrépito Largo do Moinho de Vento à renovada Praça de Carlos Alberto, o Progresso é exemplo vivo de uma estratégia bem sucedida para combater a obsolescência comercial que assalta grande parte da Baixa tripeira. Está-se bem, muito bem, na remoçada casa de cafés fundada no já longínquo ano de 1899. O segredo desse bem-estar tem muitas componentes, a começar no extremo bom gosto de quem arranjou, desenhou e decorou os interiores da casa. O Progresso conseguiu esta coisa extraordinária, muitas vezes perseguida mas raramente alcançada: conjugar memórias, histórias, vivências e ambientes retintamente tripeiros, de bairro, com pinceladas vigorosas de modernidade e cosmopolitismo que fazem daquele sítio, e das pessoas que o frequentam, um caso brilhante de adaptação aos novos tempos. No Progresso convivem o café de saco e o cimbalino, a francesinha e a fatia de pizza, o jovem estudante e o polidor de esquinas, o adepto ferrenho do glorioso fê-quê-pê e o maníaco das palavras cruzadas, o apressado que engole um café ao balcão e o tipo que se senta à mesa para ler o jornal de uma ponta à outra, a reformada profissional e o intelectual de óculos redondos, o avô e a neta, o teso e o abonado, o leitor do jornal de referência e o da revista mexeriqueira, tudo bem moldado por empregados que se encaixam nesta confusão de culturas, interesses, estatutos e manias de um modo profissional, diligente e simpático.
Passar uma ou duas horas no Progresso, numa manhã de sábado, pode ser uma experiência deslumbrante. Basta prescindir, de vez em quando, da leitura minuciosa do jornal, e deitar o olho ao que se vai desenrolando à volta. Quem entra e quem sai. As bocas dos empregados. A familiaridade quente, ternurenta, que se constrói com um olhar, um dichote, uma gargalhada, tudo isto dentro dos limites do bom senso e do bom gosto e em obediência a um equilíbrio tão difícil quanto prodigioso. É esta a cidade que é preciso recuperar, que importa reerguer, à margem dos shoppings e dos grandes centros comerciais, incapazes de recriar mundos tão fortes e tão autênticos, tão próximos das pessoas, como o que foi construído numa das esquinas do Largo do Moinho de Vento, na mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto.

Café Progresso
Rua do Actor João Guedes, 5
Porto
Telefone: 22 332 2647
Horário: aberto de segunda-feira a sábado entre as 7h00 e as 19h00

Sugerir correcção