Apoio psicológico é determinante para o sucesso das dietas dos obesos
A conclusão consta de um estudo sobre as barreiras ao tratamento da obesidade divulgado ontem durante o Congresso de Nutrição e Alimentação
Porque é que os obesos não cumprem, integral ou parcialmente, as dietas necessárias para equilibrar o seu metabolismo? Foi esta a pergunta que motivou o estudo de Flora Correia, professora universitária e nutricionista do Serviço de Endocrinologia no Hospital de São João, no Porto, apresentado ontem, que concluiu que o apoio psicológico é determinante para o sucesso das dietas dos obesos. Isto porque os factores psico-afectivos foram, a par das características dos alimentos dietéticos, os mais referidos pelos doentes para justificar o não cumprimento das dietas prescritas. O trabalho científico, intitulado Determinantes psico-afectivas e socioculturais no tratamento da obesidade, que envolveu 450 inquiridos (379 mulheres e 71 homens), foi divulgado durante o Congresso de Nutrição e Alimentação, que começou ontem e termina hoje no Porto. "O objectivo era estabelecer directrizes para uma intervenção mais eficaz no combate da obesidade", explicou Flora Correia, docente da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.
A questão adquire uma especial relevância no contexto nacional, onde, segundo dados de 2004 da Sociedade para o Estudo da Obesidade - apresentados ontem por João Breda, da Sub-Região de Saúde de Coimbra -, 37 por cento da população portuguesa, ou seja, 3,831 milhões de pessoas, sofre de excesso de peso e 1,5 milhões são obesas. Portugal apresenta ainda uma das prevalências de obesidade infantil mais altas da Europa. "Se não se tomarem medidas drásticas para prevenir e tratar a doença, em 2025 mais de 50 por cento da população dos países industrializados será obesa", enfatizou João Breda.
No estudo de Flora Correia, 54 por cento das mulheres e 62 por centos dos homens admitiram sentir dificuldades no cumprimento das dietas, mas mesmo os que negaram identificaram pelo menos quatro barreiras ao tratamento.
Das 34 afirmações relativas aos motivos que os doentes identificam para não cumprirem a dieta, foi esta a mais escolhida pelas mulheres: "Ansiedade e nervos fazem com que eu coma mais". O motivo tem menos impacte nos homens, que identificam mais afirmações ligadas à propriedade dos alimentos ("a dieta obriga-me a deixar de comer o que gosto") para justificar as dificuldades em cumprir o tratamento.