Tubos e memórias de Keil do Amaral
Os arquitectos António Monteiro Guedes e Mari Viinikainen inspiraram-se na memória do Parque Eduardo VII para escolherem a posição do edifício onde estão, durante a feira de Lisboa, o auditório e a cafetaria. Os dois arquitectos, que integraram a equipa responsável pelo projecto do ano passado (liderada por Marcos Cruz e Marjan Colletti), explicam que, ao trabalhar num parque feito por Francisco Keil do Amaral, uma referência da arquitectura moderna portuguesa, exploraram a ideia que este tinha para rematar o parque com um edifício horizontal. Mas o projecto de Keil do Amaral para o chamado Palácio da Cidade, com várias propostas desenhadas por volta de 1945, nunca resultou na construção de um imóvel.
"O nosso edifício fecha o horizonte a norte", diz António Monteiro Guedes, de 35 anos, que tem atelier no Porto com Mari Viinikainen. "Keil do Amaral não é uma referência formal, é mais no posicionamento do edifício. Faz parte da memória dos sítios os projectos que não chegaram a ser construídos", diz Mari Viinikainen, de 37 anos, uma finlandesa que vive em Portugal desde 1997.
O edifício, que tem uma área de implantação com 1215 metros quadrados, é envolvido por um passadiço que se transforma, na frente virada ao parque e ao Tejo, numa varanda de 50 metros de comprimento. O volume maior é ocupado por um auditório com 345 metros quadrados e uma capacidade de 200 lugares sentados. A cafetaria tem 255 metros quadrados e ainda uma esplanada. Há também um foyer, situado à entrada do auditório, com 95 metros quadrados, onde podem ser feitos os pequenos lançamentos.
Na construção do edifício foram aplicados cerca de 75.000 metros de tubos. Os arquitectos decidiram não esconder este elemento estrutural. "Se trabalhamos com os tubos, porque é que não os usamos como linguagem do edifício?", interroga António Monteiro Guedes. "Parece um esboço, um primeiro desenho, feito com linhas. Ficou um bocadinho o efeito da procura desse desenho inicial", explica Mari Viinikainen. E a estrutura em tubos, acrescenta a arquitecta, permite também "criar facilmente zonas de circulação".
Este ano, a zona das crianças passou para o lado do edifício. São duas plataformas, com 14 stands e uma área total de 750 metros quadrados, situadas na zona do roseiral e organizando-se à volta de um pinheiro, um eucalipto e uma cerejeira. É uma zona com muita sombra, um pequeno relvado no meio, que pode ser palco para as actividades infantis da feira. Isabel Salema