Cientistas investigam possíveis efeitos benéficos da cerveja

Álcool ingerido com moderação tem efeitos protectores
contra doenças cardiovasculares

Tal como o vinho, a cerveja bebida com moderação poderá ter efeitos benéficos para a saúde, conclui um grupo de cientistas que têm em curso investigações nesta área, apresentadas no 4.º Simpósio Europeu sobre Cerveja e Saúde, em Bruxelas. Mas "é difícil passar a mensagem da moderação e reduzir o consumo abusivo", defende o investigador do Centro de Investigação em Nutrição Humana Jonathan Powell, do Reino Unido. O consumo excessivo de cerveja pode induzir o cancro, osteoporose, encefalopatia, gastrite, causar dependência e deve ser banido na gravidez, ressalva Jean-Michel Lecerf, médico responsável pelo Departamento de Nutrição do Instituto Pasteur, na cidade francesa de Lille. Mas, se consumida com moderação, a bebida alcoólica pode ter efeitos benéficos para a saúde, protegendo contra doenças cardiovasculares, afirmou.
Os efeitos positivos da cerveja que estão a ser estudados são atribuídos aos polifenóis, encontrados na cevada que é fermentada para fazer a bebida e que têm efeitos antioxidantes, assim como a sílica, que contribui para a formação do osso.
Mas Lecerf afirma que as provas quanto aos efeitos benéficos da cerveja mais evidentes estão ligados à presença do álcool. O que torna bebidas fermentadas - como é o caso da cerveja ou do vinho - mais benéficas do que as bebidas destiladas (como o whisky, que pode atingir os 40 por cento de teor alcoólico) é a sua menor concentração (entre os quatro e cinco por cento), o que induz o consumo moderado de álcool, explica o especialista francês.

Uma cerveja por diaO problema está em definir moderação no consumo de cerveja. O investigador do Instituto Pasteur aponta para os 33cl por dia (o equivalente a uma garrafa) e defende que o efeito mais benéfico acontece quando é ingerida durante as refeições. Mas só é sentido quando associado a uma alimentação equilibrada e actividade física, sublinha Lecerf.
Manfred Walz, médico e professor da universidade austríaca de Graz (Áustria), afirma que todos os estudos científicos sobre os benefícios do álcool sublinham a "importância dos padrões de bebida". A mensagem de moderação e de equilíbrio deve ter em conta o indivíduo em causa: altura, peso, sexo, factores genéticos, estilo de vida e metabolismo. A definição dos níveis de ingestão de álcool benéficas não pode ser generalizada.
Jonathan Powell, investigador do Centro de Investigação em Nutrição Humana, explica que a linha de investigação científica em torno dos benefícios do álcool radica no chamado "paradoxo francês", mais estudado nas últimas três décadas. Concluiu-se que a população francesa, apesar de ser grande consumidora de produtos com gorduras, tem pouca incidência de doenças cardiovasculares, comparativamente com outros países, o que se ficaria a dever ao consumo de vinho, explica Powell.

A jornalista viajou a convite da Associação Portuguesa dos
Produtores de Cerveja

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